RIO – Em cerimônia virtual que durou pouco mais de 1h20, o 15º Prêmio Aptr (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro) premiou na noite desta quinta-feira (19) – Dia do Ator de Teatro – produções que foram apresentadas em formato virtual, por conta da pandemia, no último ano. Ao vivo, direto do Galpão Gamboa, na Lapa, Marco Nanini e Renata Sorrah apresentaram o evento, que foi marcado não só pela premiação, mas também por discursos engajados e homenagem aos artistas que partiram recentemente.
Devido às circunstâncias pandêmicas, o Prêmio Aptr passou por uma reformulação para esta edição. Além de contemplar apenas manifestações artística apresentadas em formato remoto, a premiação aceitou ainda produções de outros estados e não só do Rio, como ocorre tradicionalmente. E as categorias em disputa também sofreram mudanças – confira no fim da página a lista completa de vencedores, que teve dois empates, quatro vencedores do Rio, dois de São Paulo, um de Recife e um do Rio Grande do Sul.
No entanto, houve uma categoria mantida: a Especial, que teve como vencedor, Fábio Porchat, “por um sentido profundo de compromisso social”. Assim como os outros premiados, o ator e humorista fez uma entrada ao vivo para agradecer e aproveitou a oportunidade para criticar as políticas públicas voltadas para a cultura no país.
— O teatro já sobreviveu a guerras, pestes… O teatro sobrevive à pandemia e vai sobreviver. Bolsonaro passará e a gente, passarinho. Não quero que Paulo Gustavo não tenha sido em vão — bradou Porchat, lembrando o também humorista, falecido em maio, vítima da Covid-19.
Os apresentadores também fizeram suas críticas à atuação de gestões públicas na cultura.
— Criam entraves para que nós tenhamos acesso às leis de fomento, paralisando políticas públicas para a cultura — comentou Nanini.
— A arte está sendo, cotidianamente, atacada pelas instâncias governamentais que deveriam cuidar da sua manutenção. Estamos sendo perseguidos, difamados e censurados — alertou Renata Sorrah.
Além de Paulo Gustavo, mencionado por Porchat, a cerimônia prestou um tributo a outros artistas que morreram nos últimos meses. Entre eles, o sambista Nelson Sargento e os atores Tarcísio Meira, Paulo José e Nicette Bruno. Já Camila Amado, falecida em junho, foi uma das homenageadas desta edição. Inclusive, foi exibido um vídeo com o agradecimento que ela chegou a gravar, quando soube da indicação.
Os outros homenageados foram a atriz Lea Garcia; o diretor José Celso Martinez Corrêa; o diretor do Sesc-SP, Danilo Santos Miranda; Cia. As Travestidas (CE); Cia. Clowns de Shakespeare (RN); Bando de Teatro Olodum (BA); e Cia. Marginal (RJ).
PREMIADOS
Espetáculo inédito ao vivo
“Jaksons do Pandeiro” (RJ) – a potência brasileira do corpo livre e da invenção musical efusivamente representadas mesmo no formato digital
“Tudo que coube numa VHS” (Recife) – novas formas de teatralidade honram a vocação do palco para apaixonar
Espetáculo inédito editado
“Sigo de Volta” (SP) – o mundo jovem inventa o futuro e situa o teatro no seu centro, como ferramenta humana essencial
Espetáculo adaptado ao vivo
“Contrações” (SP) – a montagem venceu o grande desafio atual: criar formas novas para um teatro dramático vinculado à tradição
Espetáculo adaptado editado
“Habite-me: Teatro de Máscaras , dança e bonecos” (RS/RJ) – Aprofunda o talento e a pesquisa cênica e corporal de Carolina Garcia. Um espetáculo encantador
“Processo Julius Caesar” (RJ) – uma arte de estilhaços e recortes mergulha a percepção na relação profunda, tão ignorada, de cada sujeito com o poder
Jovem Talento —Troféu Manuela Pinto Guimarães
Elenco “Negra Palavra / Solano Trindade” (RJ) – o novo se faz a partir de uma linguagem corpórea densa, capaz de mobilizar a gana para a mudança social. O ritmo e a poética de Solano Trindade vibraram com contundência e graça na atuação dessa jovem geração do Teatro Negro Brasileiro
Prêmio Especial
Fábio Porchat (RJ) – o artista não é só um sujeito criador iluminado, encerrado em si, mas um ser impregnado por um
sentido profundo de compromisso social
OPINIÃO: Leia a crítica da Aza Njeri sobre o espetáculo “Cascavel”