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‘A Ponte’ acerta com dramaturgia e atuações para realçar a primazia do cotidiano

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Site de notícias e entretenimento especializado no circuito de teatro do Rio de Janeiro
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no CCBB, “A Ponte”, que tem direção de Adriano Guimarães, concentra-se acertadamente na dramaturgia e nas atuações.

O texto do canadense Daniel Maclvor coloca três irmãs, de idades e trajetórias bem distintas, reencontrando-se na casa da mãe, que está de cama, praticamente inconsciente. A retomada da convivência traz à tona questões antigas, mas também a oportunidade de saná-las, e esse jogo permeia a peça.

A cenografia de Adriano Guimarães e Ismael Monticelli centraliza a cena em uma imensa mesa, em torno da qual diversos objetos caseiros estão dispostos, no chão. O palco é negro e os objetos (majoritariamente louças), vermelhos. Há também um telão sob a mesa que expõe rubricas e falas de personagens que passam na televisão do quarto. Não entendi as cores, mas gostei muito da disposição exagerada de louças (elemento marcante de casas de mães e avós) em torno de uma mesa, núcleo familiar por excelência.

O figurino de Ticiana Passos traduz o que me pareceu ser a proposta fundamental da encenação: digitais discretas e claras. Uma irmã se veste de forma ligeiramente mais formal que a outra que, por sua vez, é quase imperceptivelmente mais moderna e urbana que a terceira.

O coração da montagem está nas atrizes. Com mínimas interações com cenário e figurino, e com um texto sem reviravoltas, recai sobre as três atrizes o desenho dos relevos da trama, através, tão somente, de diálogos de ordem cotidiana. Grandes que são, Bel Kowarick, Debora Lamm e Maria Flor fazem isso de maneira exemplar, sem abrir mão da imensa naturalidade característica da montagem, e ainda floreiam todo o processo com inúmeras nuances, tiradas cômicas, quebras de dinâmica, sem perder o ritmo do espetáculo.

Tendo a não gostar de peças que não operam qualquer tipo de desdobramento, ou seja, que terminam, grosso modo, como começaram. É o caso de “A ponte”, com o agravante da longa duração para os padrões atuais (em torno de 2 horas). No entanto, a obra de Maclvor mergulha em uma dimensão cotidiana que acredito ser essencial (90% da nossa vida é o cotidiano, são pouquíssimos momentos que passamos de “virada”, de uma grande decisão, de um sentimento agudo…) e que é absurdamente pouco explorada pela arte como um todo, aí incluso o teatro e, especialmente, o teatro carioca atual.

A montagem dirigida por Adriano Guimarães não só explora esse aspecto como o faz com enorme respeito, sem generalizar ou tipificar atitudes, hábitos, ou as próprias personagens (“a crente”, “a bêbada”, “a imatura”), mas, ao mesmo tempo, deixando claras as suas diferenças. É uma preciosidade.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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