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‘As Açucenas’ tem estética memorável, ainda que hermética

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Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no SESC Copacabana, “As Açucenas”, que tem concepção e dramaturgia do grupo Nuviar e direção de Davi Cunha, reúne poemas de Federico Garcia Lorca em um formato entre o recitativo e a dança. Com toda a dificuldade de transformar poemas em material cênico, o espetáculo elabora uma linguagem muito elegante.

O espaço cênico é tomado de taças por todo o perímetro, além de cestas (com folhas secas, flores…) e uma pluma ao centro. Cada nicho com estes objetos recebe um foco de luz (a pluma tem um foco específico só para ela), estabelecendo uma atmosfera assim que entramos no teatro. Além da beleza, suscita-se a noção de que cada detalhe importa, o que alude a um dos princípios fundamentais do teatro: em cena, tudo é significante, tudo tem um porquê.

Esse aspecto resolve um problema capital de se colocar poesia em cena: dinâmica. Enquanto a dinâmica da poesia está no leitor (ou na música), o teatro precisa estabelecer a sua. Fazer isso exclusivamente através da prosódia do ator que recita um poema é manter a dinâmica no plano do texto, ou seja, é infinitamente menos “dramático” do que criar uma cena que traduz “teatralmente” as palavras escritas.

A iluminação de Aurélio de Simoni e Guiga Ensá, como já adiantado no segundo parágrafo, contribui muito para esta estética calcada na materialidade cênica. Aproveita, de forma muito sagaz, o teto baixo da sala multiuso do SESC para trabalhar com focos específicos, e usa estes focos para acentuar a semiologia criada pela encenação.

Os atores Davi Cunha, Marcos Rangel e Rodrigo Carinhana tem rendimento bastante equilibrado, tanto entre si quanto entre as três atividades que executam: a partitura corporal, o recitativo e o canto.

Em suma, a peça tem um andamento que se arrasta, sim, principalmente nas partes cantadas. Seu formato também não permite um envolvimento ou acompanhamento pleno, salvo, talvez, para fãs de Lorca. Contudo, a sensibilidade na criação de uma linguagem que traduz cenicamente fragmentos de poesia é louvável. No caso específico do poeta espanhol, para quem “O teatro é a poesia que se levanta do livro e se faz humana”, como muito bem colocou Rodrigo Mercadante no programa da peça, não poderia haver opção mais acertada.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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