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Autora de ‘Romeu e Julieta’ para crianças afirma que ideia é refletir sobre respeito à opinião alheia: ‘Em tempos de polarização…’

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Os atores Thiago Monte (E) e Bruno Paiva em cena Foto: Renato Mangolin/Divulgação

Diante das incontáveis mudanças pelas quais a humanidade e o mundo passaram entre os séculos XVI e XXI, o quão interessante poderia ser para as crianças de hoje uma história escrita entre 1591 e 1595? Para Symone Strobel, autora e diretora de “À Mesa com Romeu e Julieta”, infantil online que adapta o mais famoso clássico de William Shakespeare (1564-1616), o texto original deixa de ser só um romance para se tornar uma tragédia devido a uma questão muito atual: a polarização. E é aí que entra a proposta do espetáculo, que estreia nesse fim de semana no YouTube.

— “Romeu e Julieta” é muito atual porque traz a questão das famílias rivais neste momento de polarização, que está muito forte no mundo. As pessoas estão rivalizando sem nem saber o porquê muitas vezes. Se duas pessoas se simpatizam com partidos políticos diferentes, elas já são inimigas… (a proposta da peça é) mostrar à criança que isto é legal, você ter a sua opinião e também ouvir a opinião do outro — explica a autora e diretora em entrevista ao RIO ENCENA.

Parte do projeto “Shakespeare à la Carte”, idealizado pelo atores Bruno Paiva e Thiago Monte e que já apresentou em 2020 “Hamlet à Mesa”, o espetáculo reconta a trama shakespeariana a partir da linguagem de teatro de objetos e recursos audiovisuais. Em cena, Bruno e Thiago interpretam dois garçons que são surpreendidos ao encontrarem alguns escritos perdidos de ninguém menos que Shakespeare. Tomada por aquela descoberta, a dupla embarca numa fantasia em que objetos do cotidiano, como talheres e xícaras, ganham vida e se tornam Romeu, Julieta e companhia – confira vídeo e fotos da peça mais abaixo.

Mas mesmo tratando-se de um infantil, Symone Strobel destaca que procurou deixar o espetáculo interessante para toda a família e não só para as crianças. Prova de que a autora e diretora evitou infantilizar demais a história é que o fim trágico do casal de protagonistas não foi alterado.

— Fui fiel ao original (risos) — brinca Symone, contando mais sobre o projeto no bate-papo abaixo.

Um texto de Shakespeare de mais de quatro séculos atrás adaptado para crianças. Qual foi sua maior preocupação ao escrever esta peça?
Foi um grande desafio, com certeza. Mas, na verdade, minha maior preocupação foi fazer um espetáculo que atendesse ao interesse de toda a família. Claro que me preocupei em observar questões que não fossem apropriadas para a demanda infantil, as mais agressivas, como, por exemplo, a cena da briga entre as famílias. Mas quando trabalho com infantis, não penso em fazer o espetáculo apenas para a criança, mas para a família. A ideia é não infantilizar demais porque a criança, na verdade, está inserida no universo adulto. A realidade dela tem a ludicidade, a fantasia, a brincadeira, mas ela está no mundo do adulto. Então ela tem que ser tratada como um ser pensante, que observa tudo ao seu redor. O espetáculo não infantiliza, mas traz humor, poesia… Usamos objetos, que se transformam em personagens, e isso é muito particular do universo infantil, não é? Pegar uma caneta e fingir que é uma outra coisa.

Então adaptar um autor clássico como Shakespeare para crianças é difícil, mas é viável.
Totalmente! Já fiz outras adaptações de textos dele para jovens, para crianças. Já fizemos “Hamlet”, que é outra tragédia, assim como “Romeu e Julieta”. Shakespeare é o maior autor de todos os tempos, não é? Ele e Nelson Rodrigues são pilares. Shakespeare tem uma escrita potente, e é possível, sim, adaptar para o universo infantil. Só depende do olhar do encenador. “Romeu e Julieta”, por exemplo, é muito atual porque traz a questão das famílias rivais neste momento de polarização, que está muito forte no mundo. As pessoas estão rivalizando sem nem saber o porquê muitas vezes. Se duas pessoas se simpatizam com partidos políticos diferentes, elas já são inimigas. Todos entendem “Romeu e Julieta” como uma história de amor, e tem muito isso, sim, mas é a história de um amor que só é proibido por causa das brigas, da rivalidade entre as famílias. Então tem o lado romântico, mas também é pertinente ao nosso momento porque fala aonde esta polarização pode levar. Quantas famílias brigaram por pensar diferente em tempos de eleição? E os amigos se excluindo nas redes sociais por pensarem diferente, quando, na verdade, pensar diferente é o que constrói uma sociedade.

"À Mesa com Romeu e Julieta": Shakespeare para crianças Foto: Renato Mangolin/Divulgação
"À Mesa com Romeu e Julieta": Shakespeare para crianças Foto: Renato Mangolin/Divulgação
"À Mesa com Romeu e Julieta": Shakespeare para crianças Foto: Renato Mangolin/Divulgação
"À Mesa com Romeu e Julieta": Shakespeare para crianças Foto: Renato Mangolin/Divulgação
"À Mesa com Romeu e Julieta": Shakespeare para crianças Foto: Renato Mangolin/Divulgação

Então esta é a grande mensagem que a peça passa para a criançada?
Sim, mostrar à criança que isto é legal, você ter a sua opinião e também ouvir a opinião do outro. Mas também entender que não é bom ser levado num coletivo, de forma alienada. É preciso se questionar: “Por que eu penso desta forma?”; Por que meus pais pensam assim, minha comunidade pensa assim, eu devo pensar também?”. Ouvir o outro é fundamental. E através da brincadeira com objetos do cotidiano, com coisas que as crianças se identificam, passamos esta reflexão sobre conduta, diferença, respeito.

Sem querer pedir spoiler, mas dá para adiantar o desfecho da história? Foi fiel ao original ou tem grandes adaptações?
Fui fiel ao original (risos). A mensagem que fica depois da morte do Romeu e da Julieta é que as famílias percebem o absurdo que vinham perpetuando. Então, eles fazem as pazes, e representantes das duas famílias trocam presentes e prometem uma honrar a outra. É uma história trágica, e eu respeitei isso. A maior adaptação foi no sentido de enxugar, porque é um texto muito longo, e, aí sim, ficaria complexo passar para as crianças. Então, peguei pontos de humor para trazer leveza e poesia para o espetáculo, usando os recursos em diálogo com a música, a iluminação, os objetos de cena e os atores.

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