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‘Capiroto’ faz desconstrução bem-humorada e pedagógica da imagem do ‘Tinhoso’

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Eu não ia ao teatro desde a pré-pandemia, e foi com receio que topei estar presencialmente na estreia da peça “Capiroto” protagonizada pelo Leandro Melo e dirigida por Rodrigo França. Quero começar por esta parte porque os motivos que me fizeram ir pessoalmente foram o fato de o Teatro Prudential ter reservado uma área aberta para a apresentação e a redução drástica da plateia. Éramos poucas pessoas! Também quero começar por aqui porque o motivo que me levou ao teatro foi também o que mais atrapalhou a cena: por estarmos ao ar livre na rota do aeroporto Santos Dumont, o barulho das aeronaves foram uma grande distração, acrescidos ainda pela ausência de microfones em cena o que trouxe certa dificuldade.

Felizmente, esse problema técnico não diminuiu o interessante monólogo em que acompanhamos as digressões do Diabo por meio de uma pedagógica desconstrução de sua imagem. Nesse sentido, os símbolos cristãos, suas apropriações culturais, as dinâmicas de dominação e imperialismo ocidentais na construção do imaginário histórico-social do “Tinhoso” são explorados na peça de forma quase professoral.

O equilíbrio é o humor. A ironia vem pelo texto (Rodrigo França), cenário e figurino (Wanderley Gomes), mas, sobretudo, pela performance de Leandro Melo que bebe em fontes de outros Satãs da indústria cultural, de forma que, em “Capiroto”, vemos referências antigas e novas de um personagem bastante utilizado nas artes dramatúrgicas. O olhar racializado costurado ao diabo branco cisheteropatriarcal dá um tom contemporâneo, principalmente quando ele, consciente de seu lugar e poder, goza desse privilégio (branco) enquanto aponta para a dimensão filosófica do bem e do mal e para as mazelas do Brasil. Vale o destaque às narrativas de Lilith e Eva que trouxeram outros ângulos das duas primeiras mulheres bíblicas da humanidade.

Leandro Melo é o protagonista do solo “Capiroto” Foto: Julio Ricardo/ Divulgação

A discussão filosófica fica a cargo das reflexões sobre a crueldade humana: até que ponto, em nome de Deus, se matou, roubou e destruiu? Até que ponto reproduzimos racismo religioso porque estamos na lógica dominadora ocidental, cujo pilar judaico-cristão baliza nossas compreensões morais e éticas? No desdobrar da peça, vemos um Diabo lúcido e incômodo que questiona o tempo todo a singularidade da verdade e a salvação eterna em Deus.

“Capiroto” é uma peça tensa, que nos faz rir brincando com nossas consciências. Uma boa pedida pra quem está com saudades do teatro, mas não quer se aglomerar. Só que eu fico na torcida do espetáculo migrar para o online, pois diante das novas variantes da Covid-19, todos nós temos a ganhar acessando uma arte de qualidade na segurança de nossas casas. E lembrando sempre: Exu não é Diabo!

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

SERVIÇO

Local: Teatro Prudential | Endereço: Rua do Russel, Nº 804 – Glória. | Telefone: (21) 3554-2934 | Sessões: Sexta e sábado às 20h e domingo às 19h | Temporada: 06/08 a 15/08 | Elenco: Leandro Melo | Direção: Rodrigo França | Texto: Rodrigo França | Classificação: Não informada | Entrada: Plateia: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia); plateia Lateral: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia entrada) | Bilheteria: Sympla | Gênero: Suspense | Duração: Não informada | Capacidade: 116 lugares


OPINIÃO: Leia as críticas de Aza Njeri e Luciana Kezen

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