Foi a abertura das Olimpíadas na sexta-feirn (23). Estou mais empolgada com o 7º Festival Midrash de Teatro, que começou no domingo (18) passado. Acontece! Super vale a pena conferir. Meu patriotismo se manifesta de forma bem peculiar, eu sei. Com o número de mortos por conta de Covid-19 no Brasil contabilizado em mais de 548 mil, e a falta de vacina reinando nos postos de saúde perto de mim, sinto um grande aperto no coração de não conseguir tomar a segunda dose da vacina ainda esse ano.
Nesta sexta, assisti ao premiado texto de Jô Bilac “Conselho de Classe”, que ganhou uma muito bem adaptada montagem online assinada por Fábio Fortes. As apresentações estão sendo transmitidas pelo canal Niterói em Cena, no YouTube, gratuitamente, com possibilidade de contribuição afetiva.
Estamos em uma reunião de escola publica estadual, com um diretor substituto e quatro professoras que se veem diante do desafio de encaminhar assuntos relativos ao final do semestre letivo depois do afastamento da diretora da escola onde trabalham. Pleno 2021, ainda em momento pandêmico, a reunião é feita em uma plataforma online. E funciona!
Em cena, vemos muito bem representados o cinismo da Professora Edilamar (Vivian Sobrino); o desconforto e falta de experiência do novato diretor substituto João Rodrigo (Fábio Enriquez); a distração da Tia Paloma (Carmen Frenzel); a apaziguação e falta de interesse da Professora Célia (Jacqueline Lobo); e o panfletarismo e retidão da Professora Mabel (Dárdana Rangel). Claro que também não poderíamos deixar de ter membros ausentes, a apresentação de um documento no qual quem não compareceu aceita a opinião da maioria e uma dobra de funções na representatividade dos que constam na pauta.
Em um certo momento quando comecei a sentir um certo desconforto por todas as vozes em cena sobrepostas, sem saber mais para onde olhar, sem entender o que estava se passando, fui surpreendida pela frase do diretor substituto vindo de Fábio Enriques, “vocês precisam aprender a mutar o microfone!” Uma boa sacação!
São 55 minutos de um excelente estudo social de uma dinâmica escolar e politica do país, afinal, podemos substituir muitas das reações e ataques feitos no texto de Jô Bilac por uma transcrição de uma sessão do Senado ou da CPI da Covid. Com um vocabulário muito menos ofensivo e opiniões claramente melhor explicadas do que acompanhamos no nosso cenário politico nacional.
As opções em cenário se refletem bem nos ambientes criados para cada um dos cinco personagens, já que cada membro do conselho se encontra separado com suas câmeras ligadas. O mesmo ocorre com os figurinos de cada. Fabio Fortes dirige dignamente e com muito humor, deixando o texto ácido de Bilac fazer todas as críticas ao sistema educacional nacional que era pertinente em 2014 e continua sendo agora. “A educação nesse país nunca foi prioridade”, é dito na peça.
Destaco ainda a interpretação de Vivian Sobrino, que tocou e indignou em vários momentos, vemos como a paixão de sua professora Edilamar se apaga em relação às morais nas quais ela acredita, com direito a grito de desabafo “eles não querem ser tratados como gado mas agem como uma manada!”. E também para o trejeitos e timing cômico de Fábio Enriquez, como o jovem diretor substituto, em momentos que poderiam passar despercebidos, quando, por exemplo, ele percebendo que não só não quer um pouco de café que lhe foi oferecido, mas que também nem poderia
aceitar visto que estão online.
Em temporada curtíssima, você ainda pode conferir “Conselho de Classe”, de sexta a domingo até 1º de agosto.
Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.
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