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E quando isso tudo passar, vai ser no teatro que vou me confortar

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35 anos, bacharel em Artes Cênicas pela UNIRIO, licenciada em Letras pela Estácio de Sá, atriz, escritora, tradutora e ávida leitora nas horas vagas.
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Esta semana marca um ano de pandemia no Brasil. Não preciso lembrar a ninguém que foi na segunda semana de março do ano passado que um bocado de protocolos socialmente aceitos tiveram que mudar. Como estamos um ano depois?

Uma semana antes do Carnaval, um mês antes de entrarmos em estado de calamidade publica, eu passei pela grande perda da minha vida. Minha melhor amiga faleceu. Fui ao teatro na tarde do dia em que ela faleceu. Eu estava muito preocupada com ela. Houve complicações no procedimento realizado no hospital. Não percebi o país entrando em pandemia, eu estava fechada em mim mesma. Um mês depois, quando estava conseguindo respirar um pouco, não tinha mais teatro para ir. Eu teria que lidar com meus sentimentos de outra maneira.

Com um luto que nunca antes sentira, fui atrás de peças de teatro. Logo achei várias peças gravadas com plateias lotadas. Era muito maneiro assistir a tantas peças dessa maneira. Bobeira da minha parte nunca ter procurado mais teatro gravado assim. Como todas as peças que estão em cartaz a qualquer momento, algumas me agradaram bastante e outras me desagradaram. Achei uma grande variedade de peças nacionais e internacionais.

De declarações do Governo, só me deparei com barbaridades. Início do Outono. Aniversário. Páscoa. Dia do Índio. Dia do Trabalho. Dia das Mães. Depois comecei a assistir novos trabalhos que estavam sendo realizados dentro de casa. Muita experimentação. Muita coisa que não funcionou. Muitas leituras. Amigos se juntando para ler textos e transmitindo para sua rede social.

Tudo bem. Um edital aqui. Corpus Christi. Dia dos Namorados. Dia do Rock. Dia da Amizade. Dia dos Pais. Dia do Folclore. Dia da Independência do Brasil. Dia das Crianças. Dia do Professor. 20 de Outubro. Halloween.

Plateias de teatro estão praticamente vazias há um ano (deposiphotos.com)

Na superfície ainda havia uma esperança de que logo logo estaríamos em grupos nos abraçando. Algumas salas de teatro reabriram. Não compactuei com essa atitude, não fui atrás de assistir a nenhum espetáculo presencial, nem fiz propaganda para tal. As consequências chegaram rápido. Parecia, muitas das vezes, que não estávamos passando por uma crise mundial. Grande erro!

Dia de Finados. Proclamação da República. Dia da Bandeira. Dia Nacional da Consciência Negra. Início do Verão. Revéillon. Um outro edital ali. Hospitais lotados por todo o país e por grande parte do mundo, mais uma vez. Os números de morte aumentaram vertiginosamente e continuam subindo. Continuei sem ir ao teatro. Continuei procurando opções alternativas artísticas para satisfazer meus desejos internos.

Foram muitas visitas a museus online. Estar presente em algum lugar passou a significar deixar uma câmera ligada e fingir conectividade com um certo numero de pessoas. Passei por um ano no meu luto pessoal. Dizem que as coisas melhoram depois do primeiro ano de luto, não é exatamente assim. Tentei me preparar para encarar um ano de luto pelo meu país.

Terça-feira Gorda. Quarta-feira de Cinzas. Dia Internacional da Mulher. O Outono está prestes a começar de novo. Meu luto pela situação do país não está mais brando. Alguns teatros insistem em abrir. Claro. É uma necessidade. Há uma necessidade dentro de mim de fazer arte para sobreviver, não é uma necessidade da arte me ter para existir. Eu preciso do teatro para sobreviver, o teatro não precisa de mim para existir.

Não, o teatro não está morto. A arte não está dizimada. E a pandemia não acabou. Temos que continuar a usar máscaras. Falo por mim e não por ninguém mais, sei que isso vai passar. Muito claramente nem todos nós vamos chegar do outro lado, muitos de nós já pereceram nesta caminhada no último ano. No entanto, isso vai passar.

Aprendi a pensar teatro diferente. Aprendi a procurar por características diferentes em peças de teatro. Entretenimento me entretém de uma forma diferente um ano depois de estar nesta pandemia. E quando isso tudo passar, vai ser no teatro que vou me confortar.

Um aceno de mão efusivo e até a próxima semana.
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para luciana.kezen@rioencena.com.

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