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Férias, blocos de Carnaval… Artistas analisam janeiro e suas alternativas ao teatro e o que esperam do mês em 2020

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Tempo estimado de leitura: 6 minutos
Artistas fazem um balanço sobre o teatro durante o mês de janeiro Fotos: Divulgação

Ensaios de blocos de Carnaval, férias escolares, viagens e, claro, as praias, que já fazem sucesso o ano todo, mas passam a ser ainda mais procuradas com o verão que faz o janeiro ferver na cidade que leva o seu nome. Enfim, com os termômetros batendo nos 40º (e muitas vezes até passando!) e uma oferta maior de atividades ao ar livre, é natural que o teatro encare uma disputa mais acirrada com outras opções de lazer na corrida pela preferência de cariocas e turistas.

Diante deste panorama, o RIO ENCENA procurou atores, diretores, dramaturgos e produtores que estarão em cartaz em janeiro para saber o ponto de vista de quem está no palco ou na coxia sobre tal questão e o que eles esperam do mês que vai abrir 2020. As opiniões foram bastante diversificadas, e você confere abaixo o que eles falaram:  

Foto: Divulgação

Roberto Souza – ator e diretor de “Espaço Público não é Privada”
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
1 – Fazer teatro no verão carioca pode ser melhor do que parece. Como o Rio se trata de um destino turístico internacional, os ditos programas concorrentes ao teatro (bloco, praia, cerveja, etc.) são tomados por turistas e o carioca, muitas vezes enfastiado, procura alternativas para sair do “mais do mesmo”. Além disso, é uma cidade muito grande, ainda que sua população residente viaje de férias, no geral são períodos curtos, portanto passam boa parte do tempo por aqui, quando não fazem serão extra para aproveitar o período de alta temporada. Claro, 10 dias antes do carnaval, pode relaxar e retomar a temporada no fim de semana pós quarta de cinzas… Mas eu não subestimaria o caráter “esperto” do carioca que sabe melhor do que ninguém “qual é a boa da cidade”. E muitas vezes, fugir da multidão e assistir uma peça é o melhor passeio.
E sua expectativa para janeiro de 2020?
O mercado teatral carioca (e brasileiro) é muito restrito em termos de público consumidor, quando posto diante do total da população da cidade (e do país). Penso que, no fundo, se há alguma variação de fluxo de plateia no verão, essa flutuação é irrelevante. O que faz diferença – e é o que fará em 2020 – é o aporte do estado nas políticas de fomento, educação e formação de plateia – ou a falta dele. Lembro-me de uma temporada que fiz com a Anti-Cia de Teatro no Teatro Ziembinski, no verão de 2006, época que, ainda com ressalvas, havia um gerência pública sobre produção cultural na cidade. Tijuca a 40 graus, pleno pré-carnaval. E foi bem melhor do que esperávamos, com direito a gente voltando para casa no “domingo do 1 real”. Recentemente em 2019, durante a temporada de Espaço Público não é Privada – meu último trabalho – nos meses de agosto/setembro (inverno) no Espaço Cultural Sergio Porto, dividimos o teatro com mais 6 produções e todas reclamavam em uníssino a falta de público, a ponto de sensibilizarmos a administração do teatro para que ela flexibilizasse a política de ingressos-cortesia. Em tempos de absoluta ingerência do poder público, a capacidade de organização, produção e criação é drásticamente reduzida. Será um ano duro, a começar pelo verão. Á luta! Ás artes!

Foto: Divulgação

Adalberto Neto – autor de “Oboró – Masculinidades Negras”
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Se a gente for pensar assim, o teatro vai ter sempre um concorrente. Em junho, as festas juninas, em fevereiro ou março, o carnaval, em ano de Copa, as partidas com Brasil. Se não entrarmos no jogo, nunca vamos saber o resultado. E acho importante a cultura ocupar espaço, principalmente, nesse momento em que tentam desvalorizá-la. Muita gente sai do Rio nas férias, mas a cidade também é o roteiro de muitos turistas. Então, acaba que em janeiro conseguimos alcançar um público de fora.

E sua expectativa para janeiro de 2020?
A nossa expectativa é ótima, tendo em vista a repercussão muito positiva da peça pela crítica especializada, pelo boca a boca e também pelas indicações a prêmios que o espetáculo recebeu. Fora que, a cada fim de temporada, recebemos várias mensagens do público perguntando o nosso próximo destino.

Foto: Divulgação

Pedro Henrique Lopes – ator e diretor de “Raulzito Beleza- Raul Seixas Para Crianças”
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Janeiro tem uma dinâmica realmente diferente por conta das férias e do verão, o que possibilita que o teatro se reinvente e traga novos horários e locais alternativos de apresentação. Em relação à quantidade de público, acaba não influenciando muito porque, por mais que muita gente saia do RJ em viagem, muitas pessoas vêm de fora para cá. As plateias costumam ter mais turistas que no restante do ano. Aqui no Rio, temos a praia e, talvez, esta seja a maior concorrência das atividades culturais cariocas. Por isso, dias de sol e de chuva costumam influenciar bastante na ocupação dos teatros, independentemente do mês do ano, principalmente nos espetáculos no horário da tarde. Nos espetáculos noturnos, o impacto da praia é menor e acaba sendo um bom programa para fechar o dia de férias.

E sua expectativa para janeiro de 2020?
A melhor de todas! Estaremos em cartaz com o “Raulzito Beleza – Raul Seixas para Crianças” no Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea), que é um espetáculo super animado, divertido e reluzente! Será uma ótima opção para as famílias nas tardes de verão…

Foto: XAN/Divulgação

Luiz Machado – ator de “Nefelibato”:
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Não vejo muitas mudanças em relação aos outros meses, pois independente de qual mês, a cada ano que passa o público de teatro no Rio de Janeiro encontra-se cada vez mais escasso, com a falta de apoio e de incentivo que a cultura vem sendo recebida pelo Município e pelo Estado.

E sua expectativa para janeiro de 2020?
Um mês que possamos ter uma boa variedade de espetáculos de qualidade em cartaz no Rio e um maior incentivo por parte dos órgãos governamentais.

Foto: Renato Mangolin/Divulgação

Renata Mizrahi – autora e diretora de “Gabriel só quer ser ele mesmo”
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Estrear em janeiro tem altos e baixos. Vou estrear um infantil em janeiro, o “Gabriel só quer ser ele mesmo” e reestrear um adulto, “Vale Night”. Temos a concorrência da praia, mas, em relação aos espetáculos infantis, acho que os pais preferem levar os filhos pequenos à praia mais cedinho e ir para o ar condicionado do teatro à tarde. Acho que muita gente viaja, mas, ao mesmo tempo, é uma época em que as pessoas estão mais relaxadas, sem tantas tarefas burocráticas, e mais propensas para ir ao teatro, ao cinema e outros programas.

E sua expectativa para janeiro de 2020?
A expectativa é boa, mas só vivendo para saber!

Foto: Divulgação

Cacau Gondomar diretora de produção de “Cru” e “Dança Boba”
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Muito mais fraco devido ao período de férias escolares e alto verão. O carioca, de modo geral, já prefere a praia ao teatro. Em janeiro nosso setor perde feio. Além disso, estreias e temporadas em janeiro sofrem para conseguir divulgação e espaço na mídia. Dezembro é um mês curto, onde só se fala em festas de fim de ano, liquidações de natal e etc, com isso, o espaço na mídia para a cultura fica muito curto.

E sua expectativa para janeiro de 2020?
Sinceramente não é das melhores. Não costumo ser pessimista, mas produzo teatro há mais de 20 anos e tenho acompanhado o esvaziamento de plateias ano a ano. Isso não tem a ver com janeiro ou qualquer outro mes do ano, mas sim com a falta de interesse do público em geral, somada a crise financeira do país que parece cada vez mais grave. O público brasileiro já não é dos mais assíduos ao teatro, especialmente os cariocas, sem dinheiro e com medo da violência, optamos por nos trancar em casa. Com isso, todos os setores sofrem, não apenas o cultural.

Foto: Alexandre Dacosta/Divulgação

Lucília de Assis – atriz e dramaturga:
Como você vê o teatro em janeiro? É diferente dos outros meses?
Como diria a personagem Jandira da minha “Não Peça” (indicada ao Shell pela dramaturgia): “Que em 2020, mesmo em momentos áridos, a gente aproveite as frestas das rachaduras do terreno seco e plante. Se a gente plantar, a vida brota. Pelas frestas.”

E sua expectativa para janeiro de 2020?
Espero em 2020 não esperar nada e fazer tudo! Estrear “Os Únicos” em janeiro no SESC Tijuca já é a vida pedindo passagem. E viva a imaginação a serviço da estética da existência! O teatro sofre com a falta de público o ano todo. Precisamos abrir portas de comunicação e criar novas formas da informação chegar as pessoas.

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