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‘Hamlet Candidato’ transporta os conflitos do personagem shakespeariano para uma companhia teatral

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Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no SESC Copacabana, “Hamlet Candidato”, que tem direção de Alexandre Mello, faz alusão ao famoso personagem que dá título à tragédia shakespeariana. Os paralelos não param na referência: a montagem de fato traça uma relação intrínseca e muito bem construída com a peça do bardo inglês.

O texto de Cecília Ripoll coloca uma companhia teatral, também responsável pelo espaço onde atua, se preparando para o próximo espetáculo: Hamlet (peça de William Shakespeare). No processo, várias situações delicadas se impõem, como a escolha do protagonista e a política de ocupação do edifício. Como em Hamlet, cada uma delas nasce de uma constatação: “há algo de podre”; a partir dela, questiona-se tudo. “Hamlet Candidato” embarca, assim, e com sucesso, na difícil jornada de coletivização dos conflitos internos do personagem shakespeariano, que se embate com discussões de ordem ética, que opõem a pessoalidade de Hamlet a seu papel como príncipe da Dinamarca. Noções políticas, em última instância, são, portanto, não apenas adaptadas para o bojo de um elenco, como para uma leitura deste elenco da situação do Brasil.

O cenário de Julia Deccache compõe um galpão de ensaio, com direito a refletores aglutinados em um canto da sala. É muito interessante como o piso, que é uma colcha de retalhos de textos que lembra um jornal aberto, em algum momento passa a sensação de um ambiente encurralado pelos fatos, espelho justo tanto da mente do príncipe dinamarquês quanto do enredo da própria montagem.

Os figurinos de Ticiana Passos elaboram um meio termo entre o casual e o cênico. É excelente! Não apenas porque dá conta das distintas circunstâncias da peça, que abriga momentos de ensaio, palco e bastidor, mas sobretudo porque sugere visualmente a inserção da obra shakespeariana no espetáculo, aspecto fundamental de “Hamlet Candidato”.

É difícil analisar os atores diante de uma dramaturgia tão complexa. São tantas questões para dar conta, novos fatos revelados e reflexões propostas que, no geral, lhes resta apenas dizer o texto com clareza e alguma entonação. Neste sentido, estão muito bem! Reverberam as nuances e até alcançam a comicidade em alguns momentos.

Não poderia terminar esta crítica sem mencionar a belíssima tradução, em um personagem, do processo de interseção estética e poética entre Hamlet e “Hamlet Candidato”: Ofélia. Diante de todos os conflitos instaurados no interior do elenco, e deste com a política que rege a ocupação do teatro, Ofélia “enlouquece”, num processo interno de confundir-se entre quem é e quem deveria ser, numa linda alusão tanto à obra shakespeariana quanto ao próprio esforço da montagem em transpô-la para uma trupe teatral.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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