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Herson Capri faz sua estreia no teatro online com ‘A Vela’ e analisa tipo de abordagem sobre homofobia feita em cena: ‘Visceral’

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos
“A Vela” é o primeiro trabalho de Herson Capri desenvolvido especificamente para a Internet Fotos: Caio Gallucci/Divulgação

Com 69 anos de idade e quase 50 de profissão, Herson Capri está prestes a viver uma nova experiência na carreira. Na quinta-feira (19), às 20h30, protagoniza uma apresentação única e ao vivo de “A Vela”, seu primeiro trabalho desenvolvido especificamente para a Internet – a transmissão acontece no YouTube. Com texto de Raphael Gama e direção de Elias Andreato, o veterano ator apresenta ao lado de Leandro Luna uma relação entre pai e filho que desanda de vez quando o patriarca expulsa de casa o herdeiro, que é homossexual. A atitude drástica de seu personagem, destaca Herson, dá o tom da abordagem que a peça faz.

— É visceral… Tem as tomadas de posição de um e de outro, e a discussão gira em torno disso — afirma o artista, em conversa com o RIO ENCENA, referindo-se ao reencontro, 20 anos após o rompimento, entre pai e filho (que se tornou drag queen) para um acerto de contas que deve durar o tempo que uma vela leva para derreter totalmente.

Pai de cinco filhos, Herson ressalta que foi (e ainda está sendo) um desafio construir o professor Gracindo, seu personagem, por conta das várias diferenças existentes entre eles. A semelhança, ele assegura, é só o apreço pela leitura.

— Nisso caminhamos juntos, mas na relação com o filho, a questão da aceitação, somos totalmente diferentes.

Com larga experiência também na TV, o ator reconhece que a maneira de abordar temas como homofobia e preconceito contra a diversidade sexual e de gênero é diferente nos palcos e na telinha. E justifica sua opinião:

— A TV é pautada pela audiência e o teatro, pela crítica, pelo conteúdo — aponta o ator, que tem mais de 50 trabalhos na TV, entre novelas, minisséries e participações.

Na entrevista abaixo, o ator falou ainda da experiência inédita de atuar num espetáculo elaborado exclusivamente para a Internet. A expectativa pelo resultado final, ele destaca, é boa, mas adite que espera que o formato remoto “perca a força, e que recomece o teatro presencial”.

Como essa peça aborda a questão do preconceito contra a diversidade sexual e de gênero? De maneira mais contundente, com um embate mais visceral entre os personagens? Ou de forma mais poética, mais suave?
É mais visceral, para usar a palavra que você usou. Tem as tomadas de posição de um e de outro, e a discussão gira em torno disso. O preconceito do pai é explícito, e a necessidade de libertação do filho é bem clara também.

O acerto de contas entre pai e filho deve durar o tempo que uma vela demora para derreter totalmente

E você, que tem muita experiência tanto em teatro como em TV, acha muito diferentes as maneiras como TV e teatro abordam o tema?
É muito diferente porque o teatro tem uma liberdade maior para fazer críticas, mexer em certas questões mais profundamente. A TV tem a limitação do comercial e pela questão da idade, porque está disponível o dia todo. E mesmo sendo um programa que passa à noite, as emissoras abertas têm a autocensura, por conta da audiência. Uma propaganda dessa peça, por exemplo, faria perder audiência por conta de uma parcela conservadora e careta da audiência. A TV é pautada pela audiência, e o teatro pela crítica, pelo conteúdo. Na minha expectativa e utopia, o teatro tem essa função. Já TV é mais entretenimento.

Voltando à peça, sem querer spoiler, mas esse encontro entre pai e filho anos depois mostra um pai que não é uma pessoa tão ruim, que não é só preconceito? Há uma redenção?
Não posso falar em redenção, mas ele é um intelectual, atualizado, lê muito… Isso é mostrado logo de cara. Ele tem a cabeça mais leve do que os conservadores da vida, tem uma visão mais ampla e não é totalmente preconceito. Mas ele expulsou o filho de casa porque tem esse lado conservador. E existe muito essa contradição, não é? A pessoa aceita, mas dentro de casa não pode. É muito comum.

E esse personagem é muito diferente de você? Foi um desafio construi-lo?
Foi um desafio grande, e está sendo ainda. Porque ele é um cara que exerce uma violência verbal sobre esse assunto, que é muito comum nos dias de hoje. Somos bem diferentes. E ainda tem o desfecho, que não posso te dar (risos).

No reencontro 20 depois, o filho Cadú (papel de Leandro Luna) revela ao pai que se tornou a drag queen Emma Bovary

Mas você consegue ver alguma semelhança entre você como pai e ele como pai?
Não! A única semelhança é o carinho e a dedicação pelos livros, pelo lado intelectual. Alguns livros, ele leu mais de uma vez, ele decora e cita autores, tem essa coisa bacana com a cultura. E a peça fala um pouco disso também. Nisso caminhamos juntos, mas na relação com o filho, a questão da aceitação, somos totalmente diferentes.

É seu primeiro trabalho 100% online?
Sim, é a primeira vez. Tive vários convites, mas as peças não me falaram ao coração. E essa, embora trate de um assunto específico, fala das diferenças, não só de orientação sexual, mas entre as pessoas. Fala de olhar e aceitar o outro. Desde que não agrida ninguém, acho que as diferenças têm que ser acolhidas.

Mas acha que esse formato online permanece ou a tendência é perder fôlego conforme a pandemia for se extinguindo?
Tenho muita esperança que perca a força, e que recomece o teatro presencial (risos). Mas isso depende da pandemia, claro, porque a gente não sabe até quando vai o vírus, tem essa variante Delta agora… Mas espero que volte o teatro presencial porque a gente depende do público. Mesmo em meio ao silêncio do público, a gente tem outra temperatura, é um outro tipo de relação. Porque por mais que tenham milhares de pessoas assistindo no online, a gente, na verdade, está falando com uma câmera. É diferente! Mas o nosso diretor, o Elias, já fez muito teatro online, e pelo que senti na última gravação, está conseguindo fazer uma coisa mais híbrida nesse espetáculo. Espero que o resultado seja bom. Estou na expectativa!

SERVIÇO
Onde assistir:
YouTube – Canal Sesc em Minas Gerais ou canal 264 da Claro TV | Quando: Quinta (19) às 20h30 (ao vivo) | Elenco: Herson Capri e Leandro Luna | Direção: Elias Andreato | Texto: Raphael Gama | Classificação: 14 anos | Acesso: Gratuito | Duração: 65 minutos



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