A partir de “Macbeth” (1606), considerada a mais curta e mais contundente tragédia de William Shakespeare (1564-1616), nasceu o espetáculo “A Peça Escocesa” que inicia nesse fim de semana uma curta temporada no Centro. Com dramaturgia original de Marcia Zanelatto livremente inspirada no clássico do Bardo, a montagem estreia nesse sábado (03), às 19h, no Teatro da Caixa Nelson Rodrigues, onde fica até 01/04, com sessões também às quintas, sextas e domingos, no mesmo horário.
A concepção e a direção são assinadas por Paulo Verlings, que contracena com Carolina Pismel. No palco, acompanhados pela banda Dagda (teclado, guitarras, baixo e bateria), os dois, numa espécie de concerto, dão vozes a diferentes personagens da obra shakespeariana como os corcéis do Rei Duncan, as bruxas com seu vozerio sobrenatural e os próprios protagonistas Macbeth e Lady Macbeth.
Em meio a esse jogo de vozes, que mistura música e palavra, o espetáculo toca em pontos típicos das tramas do autor britânico, como ambição, jogos de poder, compensação e cobiça, porém com um ar contemporâneo. Outro aspecto presente em “A Peça Escocesa” é o olhar de século XXI sobre a espetacularização da monarquia.
— Os clássicos de Shakespeare continuam presentes no imaginário artístico e universal. Seus enredos, epopeias mirabolantes, personagens construídos meticulosamente e munidos de real humanidade, fascinaram o mundo e atravessaram os séculos. Todos esses desejos e questionamentos sobre o humano são o que nos inspiram e movem a nos debruçarmos nesse projeto — explica Verlings.
Já a autora conta que abraçou o desafio de dar voz a quem não teve essa oportunidade no texto original. Ela, inclusive, sugere que o autor teria sido censurado na época em que concebeu “Macbeth”.
— Creio que o melhor trabalho que posso fazer, ao lidar com uma obra prima como “Macbeth”, é ouvir as vozes subterrâneas, revelar o que não foi dito no clássico – seja por questões sociopolíticas referentes ao Reino Unido do Século 17 ou por opções de estrutura dramatúrgica – e assim transmiti-lo na atualidade. Não quero contar a história ou adaptá-la. Eu quero fazer ouvir a vida interior e arquetípica dos personagens à luz do nosso tempo — complementa.