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‘Kondima’ traz reflexão rica, ainda que não se dedique a ela

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Site de notícias e entretenimento especializado no circuito de teatro do Rio de Janeiro
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no SESC Copacabana, “Kondima” coloca em cena o drama dos refugiados. Tema ultra atual e polêmico, a peça acerta em cheio ao enfocar o imaginário que permeia as experiências, em detrimento da narração ou análise de casos, por exemplo, abordagem mais recorrente da mídia de todo o mundo.

O palco vazio destaca uma estrutura no teto que esconde um sistema de iluminação. Como todo o espaço vazio, um ponto positivo é a total liberdade entregue aos atores, e um ponto negativo é a falta de elementos para intercâmbio e modelagem das cenas. No caso de “Kondima”, tudo é muito bem justificado e transferido. Por um lado, o tema do espetáculo gira em torno de um não pertencimento, seja no país de partida, seja no de chegada, o que tem tudo a ver com ausência de interação à sua volta; ao mesmo tempo, em uma encenação que tem como foco uma mentalidade, o espaço vazio seria a tradução perfeita da abstração do mundo das ideias.

Por outro lado, ele é modelado, sim, mas pela iluminação e pelos corpos dos atores, que por vezes ilustram (figurativamente mesmo) ambientes bem específicos, e por vezes traduzem emoções em partituras corporais. É muito interessante como, mesmo sem o auxílio de objetos, a montagem consegue desenhar locais inóspitos (que me remeteram à travessia) e excludentes (normalmente junto à plateia, onde os atores ficam automaticamente destacados do contexto).

Os figurinos, assim como o cenário (ou a ausência dele), são o símbolo da inexpressividade, o que também me parece muito de acordo com a sensação de não pertencimento.

Chama a atenção como “Kondima” consegue se ater a aspectos comuns de refugiados das mais diferentes proveniências e destinos. Em parte, esta característica se deve à natureza teórica da encenação, evidenciada desde o título: kondima seria fé, ou acreditar, segundo língua falada em alguns países africanos. Em parte, se deve ao apelo emocional que se quer produzir. Em função deste apelo, me parece, a peça acaba girando em círculos e desvalorizando seu principal mote: a interrupção de expectativas, de sonhos, as motivações das travessias e a adaptação ao novo país; o não pertencimento mesmo diante de uma boa recepção, a falta de voz, enfim… tudo o que tange o imaginário desta condição que, de tão comum hoje em dia, se tornou uma classe: “os refugiados”.

Não obstante o que para mim se configurou como um desencontro entre proposta inicial e resultado, “Kondima” nasce da compreensão, não só inteligentíssima como sensível (e de enorme potência cênica e reflexiva), de que o maior drama de “refugiar-se” não reside nas dificuldades concretas, mas na interrupção de vidas e na falta de perspectiva de retomá-las.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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