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Leandro Santanna: ‘Um lugar para repensar a nossa relação com nossas origens’

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Leandro Santanna*
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Depois de um curto período dentro do Uber, e de atravessar um dos túneis que sempre aponto como uma das marcas da histórica desigualdade urbanística do Rio de Janeiro, chego à Gamboa, subo as escadarias e sigo andando pelos corredores do Centro Cultural José Bonifácio, que abriga o MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira. Todos os dias em que percorro estas varandas, volto no passado quando o ator Hilton Cobra dirigia esta casa, no meado dos anos de 1990, quando aqui entrei pela primeira vez, e fiquei regozijado ao ver tantas fotos de monarcas negros e negras, em vestimentas reais e imponentes tronos de seus palácios em África.

Lembro do prazer que senti quando vi, pela primeira vez, o nome dos meus iguais em cada uma das áreas de convivência deste prédio: Auditório Ruth de Souza, Saguão Heitor dos Prazeres, Cozinha Tia Ciata, Sala Grande Otelo, Varanda Léa Garcia, Biblioteca Lima Barreto…  Diferente dos outros equipamentos de cultura de então, neste lugar, os pretos e as pretas davam nome aos espaços, e em cada um destes, um legado, uma história, muitos caminhos e portas abertas. 

Leandro Santanna é ator, diretor e produtor Foto: Arquivo pessoal

Como filho de historiadora que sou, sempre pensei nos que vieram antes. Na força de cada uma destas biografias, e em quantos seguem no processo de construção identitária que apregoamos neste prédio fincado no coração da região conhecida como Pequena África. Espaço que, tradicionalmente, sempre abrigou espetáculos de dança, música e teatro feitos pelo povo preto e para o povo preto. Um espaço que traça um paralelo direto da dança de dona Mercedes Baptista, com toda a história deste território onde muito sofrimento sempre se misturou com a força da reinvenção e do ressignificado de cada passo, cada molejo, cada gingado.

Um lugar que mistura a tradição do antigo uso escolar, com a potência de lugar de trocas, de saberes e de formulação de futuros possíveis, desde os pensamentos e as construções filosóficas de Lélia Gonzales e Abdias do Nascimento à poesia de Carolina Maria de Jesus.

Este terreiro, cheio de ancestralidade e memória, se prepara para reabrir as portas ao público em breve, investindo muito mais na prática museal, com exposições de longa duração que interpretem o nosso território e os diversos traços da influência afro-brasileira na construção cultural do Brasil, retomando todas as atividades e oficinas artísticas.

Um lugar para entendedores, leigos, museólogos, artistas, estudantes ou não, um lugar para repensar a nossa relação com nossas origens.

*Colunista convidado do RIO ENCENA, Leandro Santanna é ator, produtor cultural e outras coisas passageiras (como o próprio se define)


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