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Leonardo Franco: Rede de afetos!

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Leonardo Franco*
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

“Esbarrei no teu perfil. Fiquei navegando um pouco. Você tem uma qualidade que é admirável. Persistência infinita. Está defendendo a existência do Solar como se precisasse salvar um filho. Porque no fundo é isso. Você é incansável. E faz isso trazendo esperança e leveza. Que lindo ver a quantidade de artistas te apoiando nessa rede. E se fazem isso, não é só pelo Solar (espaço) e pela cultura. É por você. Isso tem a ver com afetos. Uma rede de afetos que você moveu. Você sempre foi super carinhoso e generoso. Que lindo, Leo!”

Recebi essa mensagem de uma amiga querida e me enchi de orgulho por estar sendo “visto” desta forma diante da luta para manter o centro cultural vivo.

Posso dizer, que desde que me “vi” ator, tive a certeza de que o Solar de Botafogo seria erguido. Tudo me levava para este caminho e durante anos fui construindo o teatro em minha cabeça, tijolo por tijolo, cada pequeno detalhe foi pensado e repensado.

Gosto de citar uma das frases mais bonitas de Sérgio Brito – “Existe algo de heroico e bíblico em se construir um teatro” e sempre me guiei por um dos trechos mais emblemáticos de Hamlet – “Existe uma providência especial até na queda de um pardal. Se tiver de ser agora, não será depois; se não for depois, será agora; se não for agora, será a qualquer hora. Estar preparado é tudo!”.

Trabalhei muito para me julgar preparado para iniciar a construção do Solar, que foi inaugurado em 2006, tendo apresentado, até agora, mais de 200 peças teatrais, 700 shows, 90 exposições e centenas de eventos literários e cinematográficos. Mais de um milhão de pessoas já visitaram o centro cultural nestes 15 anos de funcionamento e fui contemplado com o Prêmio SHELL, na Categoria Especial, pela importância do empreendimento.

Leonardo Franco é ator, produtor, diretor e proprietário do Centro Cultural Solar de Botafogo Foto: Acervo pessoal

Mas agora, depois de um ano de quarentena, é fácil perceber que não estávamos preparados para este vírus. País nenhum estava. É algo que foge do controle. Todas as gerações passam por algum tipo de guerra e estamos em pleno combate, com a certeza da vitória, mas sem a noção de quantas batalhas e vidas ainda serão perdidas neste trágico caminho.

Estou fazendo de tudo para manter o otimismo, pois se renunciamos ao otimismo deixamos de pensar estrategicamente. Durante os últimos meses, mergulhei de corpo e alma numa experiência transformadora. A sirene soou no dia 13 de março de 2020. E, a partir daí, vivemos como se estivéssemos num bunker. Primeiro achei que ia passar rápido e que em breve estaríamos respirando ar puro, mas rapidamente cai na realidade, me recolhi perplexo, amedrontado, reformulando pensamentos e traçando novas diretrizes para tempos de guerra. Logo, saí da trincheira, cheio de coragem, para enfrentar a crise de peito aberto; desfiz contratos, adiei projetos, negociei com credores, com tristeza afastei funcionários e apaguei as luzes para poupar energia. Mas uma porta ficou entreaberta e um feixe de luz me trouxe a ideia de criar uma campanha de auxílio chamada VIDA LONGA AO SOLAR, que contou com a colaboração de centenas de pessoas, entre artistas, jornalistas, pensadores e público em geral. Nunca me senti tão respeitado e percebi que não estava só. A crise ampliou a minha percepção sobre a importância do Solar. Tenho orgulho de meu trabalho e sinto-me realmente amparado por uma grande rede de afetos.

O Centro Cultural Solar de Botafogo Foto: Leonardo Franco/acervo pessoal

Não saberia dizer a fórmula para a retomada cultural, muita coisa precisa ser mudada e só teremos a dimensão dos estragos quando o vírus for dominado, mas percebo que a classe artística se uniu, como nunca, e mesmo diante de tantas dificuldades, segue lutando não só por seus sonhos e direitos, mas pelo bem-estar do próximo.

Sim, acredito que tudo vai passar e o Solar de Botafogo vai continuar produzindo arte com atitude.

*Colunista convidado do RIO ENCENA, Leonardo Franco é ator, produtor, diretor e proprietário do Centro Cultural Solar de Botafogo


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