O corpo da atriz Nicette Bruno (1933-2020) foi cremado em cerimônia realizada na tarde desta segunda-feira (21) no Cemitério da Penitência, na Zona Portuária do Rio – as cinzas serão levadas para o jazigo da família em São Paulo. A artista, que faleceu neste domingo (20) aos 87 anos em decorrência da Covid-19, ficou conhecida do grande público pelos cerca de 50 trabalhos que fez na TV (entre novelas e séries), mas durante seus quase 70 anos de carreira, conseguiu tempo também para se dedicar ao teatro, onde atuou em mais de 30 espetáculos. Em homenagem, o RIO ENCENA recorda abaixo – inclusive com fotos – a trajetória da diva dos palcos.
Nascida em Niterói, Nicete Xavier Miessa começou nas artes muito cedo, cantando num programa infantil na extinta Rádio Guanabara, onde declamava e cantava. Entre seis e 11 anos, estudou música e participou de grupos de teatro até a estreia nos palcos, ainda com 12 anos. Seu primeiro trabalho diante de uma plateia em 1945 e logo de cara com um clássico de Willian Shakespeare (1564-1616), numa versão de “Romeu e Julieta”. Ainda nos anos 1940, fez parte do elenco de “Anjo Negro” (1948), “Os Homens (O Mundo é Nosso)” (1948) e “O Balão que Caiu no Mar” (1949). Já na década seguinte, continuou marcando presença no teatro atuando em espetáculos como “Ás Águas” (1950) e “A Compadecida” (1959).
Nos anos 1960, esteve em peças como “Inimigos Íntimos” (1961) e “Escola de Mulheres” (1966). Na década de 1970, recebeu sua primeira premiação: o tradicional Prêmio Molière de Melhor Atriz por “O Efeito dos Raios Gama sobre as Margaridas do Campo”, de 1974.
Na década seguinte, esteve em peças como “Dona Rosita, a Solteira” (1980) – quando contracenou com o marido Paulo Goulart (1933-2014) – “Boa Noite, Mãe” (1984) e “A Casa de Bernarda Alba” (1986). Já nos anos 1990, atuou em produções como “Enfim, Sós” (1994), “Gertrude Stein, Alice Toklas & Pablo Picasso” (1996) e “Roque Santeiro, o Musical” (1996) e voltou a ser premiada, desta vez por “Somos irmãs” (1998), que lhe rendeu o Shell de Melhor Atriz.
Já na virada do século, beirando os 70 anos, seguiu na ativa nos palcos e, algumas vezes, ao lado de Paulo Goulart. Em 2000, eles protagonizaram “Crimes Delicados”; em 2004, dividiram a cena com “Sábado, Domingo e Segunda” (2004); e em 2010, estiveram juntos no teatro pela última vez em “O Homem Inesperado”.
Após a morte do marido, vítima de um câncer em 2014, Nicette Bruno decidiu protagonizar, no mesmo ano, seu primeiro solo teatral: “Perdas e Ganhos”, que teve direção e adaptação do texto assinadas pela filha Beth Goulart. Em 2018, trabalhou em sua última peça, o musical “Pippin”. E, por fim, no primeiro semestre deste ano, atuaria ao lado da amiga Suely Franco na comédia “Quarta-feira, sem falta, lá em casa”, mas a estreia precisou ser cancelada por conta da pandemia.
Nicette Bruno, que foi casada com Paulo Goulart por 60 anos – e com ele teve três filhos, os também atores Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho – vinha se precavendo contra o novo coronavírus, mas acabou sendo infectada após contato com um familiar.
— Ela ficou nestes 10 meses totalmente protegida, numa redoma. Mas, às vezes, acontecem coisas que saem do controle. Semana passada, ela recebeu a visita de um parente, e ele não sabia que estava infectado. E, infelizmente, transmitiu o vírus para ela — disse a filha Beth Goulart, em entrevista à revista Quem.