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“O Ator e o Lobo” é elegante comemoração das bodas de ouro entre Pedro Paulo Rangel e o teatro

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Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, e com direção de Fernando Philbert, “O Ator e o Lobo” congrega duas vidas: a de Pedro Paulo Rangel, ator brasileiro, e a de António Lobo Antunes, escritor português. É o próprio ator quem assina a dramaturgia baseada na obra do escritor, e esta mistura é a grande questão da peça, que se materializa como um exercício de escrita e, ao mesmo tempo, um monólogo de um contador de histórias.

Neste processo, é extremamente interessante como o texto explora a descrição de ações concretas, em detrimento da descrição de sensações ou sentimentos. Se o gênero (monólogo) sugere uma linguagem lírica, na prática ela parece ser muito mais épica, onde o ator se comporta como um narrador da própria vida, entendida aqui como um objeto em si, e não fruto da subjetividade. Isso dá vazão a um humor sutil que colore a encenação. Gostei bastante!

O cenário de Fernando Mello da Costa é, mais uma vez, inesquecível: assentos dispostos irregularmente (em meia lua) passam a ideia de uma arbitrariedade na arrumação; ao lado deles, cômodas com objetos pessoais compõem pequenos nichos e sugerem três ambientes diferentes. Consegue ser, ao mesmo tempo, uno e múltiplo; neutro – com uma boa dose de espaço vazio para a atuação – e claro, sobretudo na caracterização de ambientes internos, com marcas de intimidade. Ao fundo, um telão onde se projetam fotos com histórias de vida, de palco e de família de ambos os “autores” (António Lobo Antunes e Pedro Paulo Rangel).

A iluminação de Aurélio de Simoni dialoga lindamente com o cenário, acentuando o caráter íntimo da encenação, optando pelo clima noturno, evidenciado não só na tonalidade dos filtros mas também na simulação da janela penetrada pelo luar.

O figurino de Helena Araújo vai na mesma direção da iluminação, vestindo Pedro Paulo Rangel com um terno de cor escura mas sem formalidade em excesso, de um modo que caracteriza-se a solenidade da ocasião sem se opor à intimidade do ambiente.

Pedro Paulo Rangel é, de fato (como exposto no programa), um excelente contador de histórias. Mantendo a impostação no limite para se fazer ouvir por todos os espectadores sem perder a entonação, o ator lembra a arte de saborear um texto, tão desvalorizada nas atuais gerações.

Para finalizar, deixo uma questão: a montagem caminha na direção de uma diluição entre António Lobo Antunes e Pedro Paulo Rangel. Por quê? Entendo que muitos pontos em comum tenham sido encontrados entre ambos. Justamente por isso entendo que cabe a distinção, para que a comparação possa então ser feita. Em cena, árvores genealógicas são apresentadas e a memória é convocada como agente. A memória tem um senhor, assim como famílias são constituídas em função de seus entes. Se não temos clareza nos limites dos objetos, como podemos relacioná-los? Senti falta de saber quem era quem, para enxergar também a relação entre histórias, parentes e memórias.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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