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‘O Paraíso mais Belo do Mundo’: um infantil pra lá de profundo

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

A peça infantil “O Paraíso mais Belo do Mundo – Espetáculo para Bonecos e Atores”, de José Mauro Brant (texto e direção), nos convida para o universo lúdico da infância e dos livros. Com uma história sensível, acompanhamos a construção da relação de amizade de duas crianças muito espertas e curiosas, Maria e Miguel, no espaço da Biblioteca Paraíso. Com eles, mergulhamos, então, em diversas reflexões filosóficas recheadas de referências da literatura e da filosofia ocidental. Nesse sentido, me perguntei se as crianças, público alvo da obra, realmente alcançam a discussão, já que as personagens tratam de temas tão profundos e subjetivos como saudade, perda, luto, família, tristeza e felicidade, num discurso que, por vezes, apesar de divertido, escapole do alcance dos menores.

Destaco a evolução filosófica das personagens infantis, que começam tendo uma concepção pessoal da esperança, por exemplo, e terminam com outra construída em conjunto, trazendo uma camada que reflete a força do coletivo. As falas sobre o amor conduzem a peça trazendo beleza e emoção, mas afirmações como “Se o amor é um problema, a pessoa amada deve ser a solução”, me parecem problemáticas, já que reforçam um lugar romântico ocidental do que é amar.

O espetáculo une atores e bonecos em cena Foto: Luciana Mesquita/Divulgação

O texto é baseado em três contos do renomado escritor português Valter Hugo Mãe: “Bibliotecas”, “As mais belas coisas do mundo” e “O paraíso são os outros”. Entretanto, de alguma forma, pareceu haver um diálogo com o escritor argentino Jorge Luis Borges e o conto “Biblioteca de Babel”, na obra clássica “Ficções”, talvez uma inspiração que venha do cenário de Natália Lana. 

A escolha do teatro filmado foi importante, pois não nos deixou perder a dimensão do palco, o que agregou muito no imaginativo, pois, em cena, os atores aparecem manuseando os bonecos, o que seria muito difícil de ser crível, caso o diretor optasse adentrar totalmente ao formato filmográfico.

Outro ponto bacana é a valorização da biblioteca como um espaço do saber. Ajudadas pelos bibliotecários, as crianças alcançam mundos incríveis pela literatura e se nutrem de conhecimento, o que me faz lembrar o intelectual afro-americano Llaila Afrika, que diz que “a leitura musculariza a nossa inteligência”. O próprio nome, “Biblioteca Paraiso”, metaforiza um reino de todas as possibilidades e me leva à infância, onde eu também vi no espaço dos livros um lugar seguro, afinal, “ler é sempre esperar o melhor”.

O espetáculo está disponível 24h por dia, até o dia 1º de agosto, no canal de YouTube Biblioteca Paraíso.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.


ARTIGO: Leandro Santanna fala sobre o MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira

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