Estreou no último sábado (19), o espetáculo infantil “O Pequeno Herói Preto”, um projeto estrelado por Júnior Dantas, que interpreta um menino de 10 anos que é super herói e youtuber. Esta é, portanto, a história do Super Nagô.
Lúdico, colorido, criativo e animado, o musical é feito para as crianças e entrega um material cheio de afro-referências que ajudam em discussões importantes como racismo, ao mesmo tempo em que aponta caminhos de valorização dos nossos aquilombamentos familiares. Achei uma boa sacada mostrar famílias – avôs, avós e mães – como super heróis, criando narrativas infantis críveis ao imaginário do menino de 10 anos! Ao mesmo tempo, a peça sensibiliza os pequenos quanto aos processos de invisibilidade racial trazendo uma dimensão humana.
Nesse sentido, o espetáculo tem a reivindicação da humanidade negra através do imaginário infantil como fio condutor. O ótimo texto de Júnior Dantas e Cristina Moura soube trazer camadas dialogantes com os pequenos e seus universos e com os adultos, que são levados a memórias dos super heróis da infância. Confesso que quase gritei “Capitão Caveeeeernaaa”! Meu herói predileto por muito tempo.
A direção de Cristina Moura e Luiza Loroza soube explorar o hibridismo do teatro-filme, tanto nos ângulos da cena e no uso do recurso do zoom da câmera, quanto nas animações de Luíza Martins feitas na edição. Minha filha de 3 anos ficou maravilhada querendo ter também o seu bordão de super heroína.
A instalação usada como cenário chama a atenção, nos lembra o tempo inteiro que estamos num teatro, apesar de ser no formato de filme. Cachalote Mattos trouxe o movimento e a ludicidade, de forma que a instalação dialoga com o Super Nagô.
Quero frisar que a definição de vilão é filosófica, afinal, existem todos os tipos de vilões! Daqueles que roubam doce de crianças aos que não compram vacinas para sua população. É importante explorar com os pequenos as semióticas da vilania dentro da nossa realidade de desgraça coletiva. “O Pequeno Herói Preto” funciona, desta forma, como um fôlego para tempos tão tristes. No mesmo dia em que o Brasil bateu 500 mil mortos, poder adentrar num universo livre do caos é acalentador. Como diz uma máxima do candomblé, “nada melhor que o sorriso das crianças para afastar Iku (morte)”. Se cuidem!
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