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Público ‘às cegas’ e ator surdo em cena: espetáculos experimentam diferentes abordagens e põem os sentidos humanos em foco

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Tempo estimado de leitura: 3 minutos
“A minha nossa voz” (acima) e “Aquilo que não se pode falar” Fotos: Renato Mangolin e Andrea Capela/Divulgação

RIO – Já imaginou acompanhar um espetáculo do início ao fim de frente para o palco, mas sem ver nada, apenas ouvindo? No circuito teatral do Rio de Janeiro, dá para ter esta experiência. E que tal assistir a dois atores contracenando, cada um com a sua língua materna, sendo que o surdo se expressa através de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e o ouvinte, pelo português? Pois testemunhar este diálogo também é possível, graças ao crescimento do teatro online (e seus derivados, como peça-filme, cineteatro etc.) nesta realidade de pandemia.

As duas peças em questão são “A minha nossa voz”, que está em cartaz no Espaço Sergio Porto, e “Aquilo de que não se pode falar”, cuja estreia em plataforma digital acontece nessa quarta-feira (08) – seguindo até a quarta seguinte, dia 15. E embora sejam apresentadas em formatos distintos, as montagens têm em comum uma abordagem teatral incomum que põe os sentidos humanos (pelo menos, alguns deles) em foco.

Em “A minha nossa voz”, primeiro trabalho do grupo Delicadas Criaturas, o objetivo é proporcionar ao público uma experiência teatral sonora. A partir de três contos do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) – “O Príncipe Feliz”, “O Rouxinol e a Rosa” e “O Gigante Egoísta” – os atores Nara Keiserman e Marcus Fritsch (também responsáveis pelo texto) contracenam, entrelaçando diálogos e canções. Enquanto isto, os espectadores estão na plateia, “às cegas”, ouvindo a encenação, cada um formando a sua própria visualidade do espetáculo.

Tal experiência pode ser possível graças às vendas – devidamente higienizadas e acondicionadas – que a produção distribui na entrada do teatro, convidando as pessoas a participarem desta vivência proporcionada exclusivamente pelo som. Mas como, obviamente, fica a cargo de cada espectador usar ou não a tira nos olhos, o efeito acaba não sendo o mesmo para todo mundo.

— Todas as marcações no palco têm como único princípio e objetivo o efeito sonoro, prescindindo do visual. Assistindo com os olhos abertos, o público veria algo próximo de uma contação de histórias. De olhos fechados, ele se vê imerso nas vocalidades dos atores, na música e até nos silêncios. Como os pontos de emissão dos sons vão mudando o tempo todo, a plateia é sempre surpreendida, justamente, porque não está vendo. O trabalho foi inteiramente concebido como uma experiência de escuta. Como diz o Rubem Alves, que é citado na abertura da peça, “a gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina” — comenta o diretor Demétrio Nicolau.

Já “Aquilo de que não se pode falar”, viabilizado pelo programa Ramos Itaú Cultural, inova não em relação ao público, mas ao elenco. Em cena, estão Filipe Codeço – um dos idealizadores do projeto – e Marcelo William da Silva, que é surdo. Ou seja, trata-se de um espetáculo bilíngue, já que cada um se expressa com a sua respectiva língua: português e Libras – Jhonatas Narciso, como intérprete, se junta à dupla.

Baseado em “Vaca de Nariz Sutil”, livro de Campos Carvalho que completou 60 anos em 2020, a peça reproduz a convivência entre um soldado recém-chegado de campos de batalha e um homem surdo. Assim, a montagem vai além das reflexões sobre as devastações e consequências de uma guerra para também mostrar uma coexistência entre duas línguas e culturas – que dialogam muito pouco entre si – sem que haja uma hierarquia linguística.

— Trata-se de um projeto que se orienta pelo desejo de fazer confluir as experiências e os modos de vida através das suas diferenças. É um caminho sinuoso e de constante aprendizado, por isso, revela muito sobre a urgência de buscarmos maneiras de fazer conviver aqueles que se diferem entre si. O funcionamento das coisas deste mundo, da forma como elas são, pouco diz respeito às necessidades (básicas) de uma cidadã ou cidadão surdo, por exemplo. O termo “acessibilidade”, hoje, em dia é corrente, e é importante que seja assim. Mas também é importante a consciência de que a acessibilidade em si é apenas um passo na busca por equidade de oportunidades, se considerarmos o quanto pessoas surdas são desfavorecidas no acesso à esfera social — discursa Vinícius Arneiro, diretor do espetáculo e co-idealizador do projeto.

SERVIÇO

“A minha nossa voz”
Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto | Endereço: Rua Visconde de Silva s/nº – Humaitá. | Telefone: (21) 2535-3846 | Sessões: quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h | Temporada: 02/12 a 12/12 | Elenco: Nara Keiserman e Marcus Fritsch | Direção: Demetrio Nicolau | Texto: Nara Keiserman e Marcus Fritsch (a partir de três contos de Oscar Wilde | Classificação: 12 anos | Entrada: Antecipado pelo Kickante: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) / No local: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) | Bilheteria: Kickante | Gênero: drama, Experimental | Duração: 50 minutos | Capacidade: 98 lugares

“Aquilo que não se pode falar”
Local: 
Vimeo | Sessões: Disponível 24h por dia de quarta (08/12) às 19h até quarta (15/12) às 21h | Temporada: 08/12 a 15/12 | Elenco: Filipe Codeço, Marcelo William da Silva e Jhonatas Narciso | Direção: Vinícius Arneiro | Texto: Diogo Liberano | Classificação: Não informada | Entrada: Gratuita | Bilheteria: Sympla | Gênero: drama | Duração: 75 minutos


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