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Terror infantil estreia no Teatro Glaucio Gill, e diretor comenta proposta: ‘Mensagem para aceitar o diferente’

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Tempo estimado de leitura: 5 minutos
O espetáculo é protagonizada pela menina Juju e seu amigo monstro Fotos: Helmut Hossmann/Divulgação
O espetáculo tem como trama central a amizade entre uma menina e um monstrinho Fotos: Helmut Hossmann/Divulgação

Se o gênero terror infantil lhe soa incômodo, saiba que por trás daquilo que parece estranho, pode haver uma bela mensagem. E no caso do espetáculo “A Casa bem Assombrada”, que estreia neste sábado (27/08), às 17h, no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, o recado é justamente de respeito ao que à primeira vista pode causar aversão nas crianças. Responsável pelo texto e pela direção, Ivan Fernandes conversou com o RIO ENCENA e falou sobre a proposta de tocar os pequenos de uma forma mais intensa e alertá-los para a importância de não pré-julgar quem lhes parece diferentes. Para tanto, ele criou a história de Juju (Maíra Kestenberg), uma menina fissurada por contos de terror que vive numa casa habitada por monstros e não vê problemas em fazer amizade com uma deles (Adriano Pelegrini).

– Criamos nossas crianças com medo do que é diferente. E a mensagem é para que o diferente seja agregado e não algo a se temer – enfatiza Ivan, que também escreveu e dirigiu o infantil “Leonardo – O Pequeno Gênio Da Vinci”, que faturou o Prêmio Zilka Salaberry 2011 em quatro categorias: ator, texto, direção e espetáculo infantil.

Com esta mesma mensagem, Ivan abarca ainda temas como bullying, solidão e separação familiar. Isso porque antes de engatar a inusitada amizade com o monstrinho, Juju passa por maus bocados. Primeiro, ela precisa lidar com o divórcio dos pais e depois se adaptar à cidade e à escola novas, onde é hostilizada pelos colegas. Mostrar esse lado um pouco mais duro da infância, aliás, foi um dos fatores que motivaram Ivan a fugir do lugar-comum no teatro infantil. Ou seja, um mundo das maravilhas, repleto de fadas, príncipes encantados e afins.

– O terror tem o lado sombrio que, na criança, pode representar a ansiedade, o medo… Muitas crianças lidam com isso, e o teatro infantil muitas vezes não aborda – alerta o diretor, que, para criar “A Casa bem Assombrada”, se inspirou no universo de Tim Burton, diretor respeitado por fãs do gênero, e nas animações americanas que seguem na moda.

No entanto, papais e mamães podem ficar tranquilos porque embora trate de emoções mais profundas da fase infantil e seja protagonizada por monstros, a peça não dá sustos nos pimpolhos. O terror, no caso, é apenas um pano de fundo. Depois que estreou no início do ano passado no Oi Futuro Ipanema, o espetáculo excursionou pelo interior do Rio de Janeiro atraindo e entretendo crianças de 5 a 11 anos – algumas até de 2!

– A gente não investe pesadamente no susto. Tem o humor – garante Ivan, que falou muito mais sobre a peça na entrevista abaixo:

O que te motivou de verdade a montar esse espetáculo foi o simples fato de fugir do óbvio?
Busco um diferencial. Os infantis evitam lidar com certas emoções mais intensas. Não que a gente vá fazer exatamente um (filme) “Sexta-feira 13”, mas o terror também pode atrair crianças. Eu adorava quando era pequeno. Então foi isso que pensei de primeira. O terror tem o lado sombrio que, na criança, pode representar a ansiedade, o medo… Então, o grande objetivo era mostrar a criança tentando lidar com seus próprios monstros. A menina passa pela separação dos pais, se muda para uma cidade nova, uma escola nova… Então há um paralelo desse universo de terror, pelo qual ela já é fanática, com as sombras passando na vida dela. Muitas crianças lidam com isso, e o teatro infantil muitas vezes não aborda. Tem sempre aquela coisa da criança esperta, que tudo é muito fácil… A angústia e o medo também estão presentes na infância.

A casa para onde Juju se muda é habitada por uma família de monstros
A casa para onde Juju se muda é habitada por uma família de monstros

E você já ouviu alguma opinião que freasse sua ideia? Tipo: “Tem certeza que vai escrever uma história de terror para crianças?”
Não. Ouvi só pessoas que ficaram surpresas. Tipo: “Nossa, que legal!”. Isso me motivou. Na verdade, o mote do terror foi descoberto pelas animações norte-americanas há um tempo já. Tem o “Mostros SA.”, o “Hotel Transilvania”… No teatro é que ainda falta explorar isso. Até temos um clássico, da década de 50, que é o “Pluft – O Fantasminha”. Mas também é só isso. Então vi essa lacuna a ser preenchida. O que a peça tem provocado surpresa, é ser diferente.

Mas a montagem não tem momentos de sustos, como nos filmes adultos, não é? Leva mais para o humor?
A gente não investe pesadamente no susto. Tem o humor. Tem só uma coisa que no início fiquei com medo. Em certo momento no cenário, são exibidas as gêmeas do filme “O Iluminado” (de Stanley Kubrick, de 1980). Quando vi, achei adulto demais, que passaria do tom. Mas depois fui convencido do contrário. E logo na primeira semana ninguém se assustou. As crianças acompanham atentas, ficam envolvidas com a história. Às vezes, chegam a dar dicas aos personagens. (risos). A ênfase não está no susto, só o universo do terror que é abordado.

A inspiração para escrever um terror infantil vem de Tim Burton apenas ou tem mais alguma? Algo fora do cinema…
Tim Burton é referência muito no visual, nas cenas de luar… Já as narrativas, o elenco e nós todos vimos o máximo possível de produtos para infância que abordam terror. Esses americanos que comentei.

Filmes e animações dos estados Unidos serviram de inspiração para a montagem
Filmes e animações dos estados Unidos serviram de inspiração para a montagem

E dentro desse enredo tem uma mensagem bacana que é saber respeitar as diferenças. De que forma você passa isso para as crianças?
A peça está o tempo todo preocupada em dialogar com crianças, mas também com pais, que às vezes ficam esquecidos em peças infantis. Para eles, criamos a personagem da mãe que cria a filha, encara dificuldades. Mas a mensagem central é contra a exclusão. Na história, os monstros são excluídos. E o espetáculo fala pelo ângulo deles, que também têm medo dos humanos. Um lado tem medo do outro. Ninguém se aproxima, e quem quebra isso é a criança, com sua inocência. Criamos nossas crianças com medo do que é diferente. E a mensagem é para que o diferente seja agregado e não como algo a se temer. Ainda sobre os pais, tem a questão da separação e a forma como a menina lida com isso. É um tema espinhoso, mas muitas famílias lidam com isso. Uma mãe já chegou para mim e agradeceu por abordar o assunto porque ela estava passando por essa situação com a filha e não estava sabendo se posicionar. Ela me contou que a peça disse o que ela queria dizer e não sabia como.

A próxima pergunta seria exatamente sobre isso. Como costuma ser as reações de pais e filhos depois da peça?
A gente sempre procura conversar com o público depois das apresentações. Primeiro, porque criança é espontânea. Se ela não gostar, ela vai falar. Os atores vão tirar fotos, e sempre acabamos sabendo das reações. E nunca vimos uma reação de medo. Pelo contrário, elas querem os monstros, ficam encantadas com esse universo, querem tirar foto, se aproximar… Mesmo fora do teatro, elas não veem como atores, mas como monstros. E os pais ficam felizes com esse tipo de mensagem e discussão, que geralmente o teatro infantil não trata. E, geralmente, se identificam com a mãe, que está ali numa roubada porque ela é uma mulher que acabou de se divorciar, que se muda para uma outra cidade, passa a trabalhar por dois. Se identificam  pelas características, percebem o que está por trás da personagem, que foi feito para isso mesmo. Ela está imersa no trabalho, com problemas e não enxerga o lúdico e os desafios das crianças, e acaba demonstrando uma atitude de pouca atenção. A reação dos adultos é essa. Falam que a personagem da mãe mostrou que tem que prestar mais atenção nos próprios filhos, que não pode colocar os problemas à frente.

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