Em cartaz no Teatro II do SESC Tijuca, “Negra Palavra Solano Trindade” tem direção partilhada entre Renato Farias e Orlando Caldeira, diretores também da Companhia de Teatro Íntimo e do Coletivo Preto, respectivamente. A peça, composta inteiramente de atores negros, dá vida à poesia de Solano Trindade por meio de passagens selecionadas e coreografias, que funcionam como traduções corporais da obra escrita.
Como já é marca registrada da Companhia de Teatro Íntimo, os atores preenchem a narrativa como coletivo, coro, cenário. Tudo acontece através do coletivo: nos momentos de fala, um ator se destaca do grupo e passa a se dirigir a ele e ao público, (como o corifeu do teatro grego), criando a impressão que atores e espectadores “estão no mesmo barco” – também senti esta inclusão em “Será que vai chover”, do Coletivo Preto.
Os figurinos, em linhas gerais, são crus (brancos), o que fica bonito a partir do contraste com a tonalidade negra dos atores. As peças de roupas são simples, básicas, o que indetermina classe social, região, época, enfim… mantêm os atores num estilo neutro, como páginas em branco para as inúmeras possibilidades que o espetáculo constrói.
Os atores refletem esse aspecto do figurino muito bem: são estados de espírito, são emoções, são arquétipos que transcendem contextos específicos. São como a poesia, são como o espectador vê. Com exceção de Lucas Sampaio, não operam nuances, fazendo com que a dinâmica da peça seja constante – o que, em minha opinião, é algo negativo. A montagem segue em um andamento único, quase como um ritual, não surpreendendo o espectador.
Um abraço e até domingo que vem!
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