Em cartaz no SESC Copacabana, “O Corpo da Mulher como Campo de Batalha”, de Matéi Visniec e direção de Fernando Philbert, coloca frente a frente mulher estuprada na Bósnia e psicoterapeuta norte-americana. A peça é este diálogo, que se configura praticamente como dois monólogos. Eficiente, focada no texto, a montagem opera uma reflexão densa sobre o tema, tão atual no Brasil.
Anos 1990. A menina foi estuprada durante guerra na Bósnia. A psicóloga é de Boston, formada em Harvard. Duas realidades completamente diferentes se embatem, comprometendo a relação médico–paciente. A ambientação já é caótica e prenhe de questões antes mesmo de começar a falar sobre o estupro em si. Neste sentido, achei excelente a decisão de neutralizar o máximo possível os elementos, de modo a não desviar a atenção da discussão.
Cenário e figurinos de Natália Lana compõem-se de tonalidades neutras e solenes, como cinza e marrom, sem estampas ou detalhes que se destacam. O palco é cortado por uma linha de tecido cinza e um espelho que representa uma janela. Bom!
A iluminação de Vilmar Olos e a trilha de Tato Taborda seguem a mesma linha. Chegam a ter alguns efeitos e pontuar certos momentos, mas no geral mantêm-se praticamente imperceptíveis.
As atrizes desenham suas personagens na medida da diferenciação original entre seus “lugares de fala”. Sobriedade (ou tentativa de, pois às vezes a emoção irrompe) da psicóloga (estrangeira no contexto dos Balcãs, tanto quanto na experiência do estupro) em contraste com o desespero emocional da protagonista. Desespero que se expressa de maneiras diferentes: da reclusão traumática à agressão verbal ao posicionamento da terapeuta. Fernanda Nobre não fez no dia em que assisti (09/06/2016).
A direção de movimento de Marina Solomon foge um pouco da assepsia dos outros elementos. Existem partituras corporais que seguem uma condução dramática própria, não apenas sublinhando o texto.
Um abraço e até a próxima!
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