“A Mulher que Virou Planta”, solo performático em cartaz no espaço “Rampa – lugar de criação”, inspira-se no livro “A vida das plantas: uma metafísica da mistura”, do filósofo italiano Emanuele Coccia.
Em cena, Bruna Trindade começa deitada no chão da grande sala superior, onde a equipe convida os espectadores a disporem uma série de objetos, entre tapetes, abajures, frascos, pratos, porta-copos, etc, pelo espaço, da maneira que preferirem. Nós, o público, o fazemos, e então alocamo-nos basicamente pelas paredes da sala, sentados no chão, em almofadas e algumas cadeiras. A performance acontece em meio aos objetos espalhados, com os quais a atriz interage, criando nichos onde tenta equilibrá-los em arquiteturas surpreendentes.
É muito interessante como a performance consegue manter a concentração e a expectativa do público a partir da ação simples do equilíbrio de objetos. A singeleza da ação contrasta com a completa imprevisibilidade das estruturas criadas por Bruna Trindade. Tudo gera uma enorme apreensão, mesmo com a aparente calma e propriedade com que Bruna transita pelo espaço.
A sensação de uma vertigem constante permeia os próprios movimentos de Bruna pelo espaço, e, à medida que as estruturas vão sendo formadas, multiplica-se. Ficamos apreensivos não só pela performer e os desdobramentos possíveis de suas ações imediatas, mas também pelas suas ações passadas, os nichos que foram construídos e estão ali, diante de nós, na iminência de cair.
É delicado expor interpretações de uma obra (e um gênero) que inclui o espectador em seu universo. Recomendo ao público que vá com a consciência que se trata de uma performance, que tende a ter uma semiologia de compreensão plural. Da minha parte, me chamou especialmente a atenção como o “devir planta” nasce de uma tensão (ou um equilíbrio) constante entre o estabelecer-se (a imobilidade) e a profusão de fatores ao redor.
Um abraço e até domingo que vem!
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