Busca
Menu
Busca
No data was found

Antes avesso ao teatro online, Édio Nunes estreia musical solo no YouTube e explica o que o levou a ceder: ‘Foi pela saúde mental’

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Tempo estimado de leitura: 6 minutos

Édio Nunes estreou “Kid Morengueira” em 2017 Fotos: Débora Garcia/Divulgação

No início de março passado, às vésperas de a bagunça instaurada no setor cultural pela Covid-19 completar um ano, o RIO ENCENA entrevistou o ator e cantor Édio Nunes, que se preparava para levar ao palco, dentro de alguns dias, “Kid Morengueira – Olha o Breque!”, seu musical solo em homenagem ao sambista Moreira da Silva (1902-2000). Entretanto, pouco depois, veio um decreto da prefeitura com uma série de restrições, e o circuito de teatro do Rio de Janeiro com público presencial, que jamais engrenou desde o início da pandemia, minguou de vez. Agora, passados cerca de 50 dias, voltamos a conversar, mas, desta vez, sobre uma curtíssima temporada online do espetáculo, algo que não estava nos planos do artista.

Com incríveis 50 espetáculos musicais no currículo, o carioca Édio Nunes tem conhecimento de sobra no gênero – no qual estreou em 1994 com “Teatro Musical Brasileiro 2”. E do alto desta experiência, ele pensava em postergar o máximo possível uma adesão ao teatro virtual por achar que a mensagem do trabalho talvez não pudesse chegar ao público como o desejado através de uma tela.

Mas agora, com a teimosia do coronavírus e a lentidão na vacinação, não teve jeito: a plateia deu lugar a duas câmeras na gravação realizada num domingo no Teatro Cesgranrio, e os aplausos foram substituídos pelo silêncio. Longe do ideal, claro, mas fundamental para Édio, financeira e psicologicamente.

— A gente precisa trabalhar. Mas também não foi somente pela grana, foi pela saúde mental. Ficar em casa o tempo todo… Chega uma hora, que não dá mais — explica Édio Nunes, que em “Kid Morengueira”, de 2017, canta, dança e conta “causos” do músico, conhecido pela irreverência e pela identificação com a figura do “malandro” (confira mais abaixo imagens da montagem).

A primeira incursão do ator no chamado teatro online começa nesse domingo (25) e vai até quarta-feira (28), sempre às 19h, no canal Funarj, no YouTube – confira o serviço completo no fim da página. E pelo visto, como o próprio Édio acredita, apresentações virtuais ainda serão a bola da vez para o teatro por um tempo, principalmente para aqueles espetáculos musicais que reúnem grandes produções e elencos numerosos.

— Acho que (volto aos musicais) lá para o final do segundo semestre. Talvez! Eu adoraria que fosse agora, com uma grande maioria vacinada, dentro das medidas… No momento, não me vejo num musical com 20 pessoas no elenco — afirma.

Confira a entrevista completa abaixo:

Quando conversamos em março, você disse que priorizava o teatro presencial e que esperaria o máximo possível para apresentar o “Kid” no palco se preciso fosse. Agora, topou o formato online. Chegou a hora que não deu para segurar mais?
Ah! Chegou… A gente precisa trabalhar. Mas também não foi somente pela grana, foi pela saúde mental. Ficar em casa o tempo todo… Chega uma hora, que não dá mais. Por mais que você consiga contornar por um tempo, tem aquele momento que você precisa sair e fazer algo. E se o jeito é fazer online, é neste formato que vamos fazer por enquanto. Só esta ida ao teatro, para ensaiar no sábado e gravar no domingo já me deu um gás. Na hora em que pisei no palco, tirei o sapato… Eu estava em casa, no meu templo. Me revigorou e deixou pronto para mais um período em casa (risos).

E como foram os cuidados para o ensaio e a gravação?
Cuidado total, com uma equipe menor, todos usando máscara e faceshield… Os músicos afastados de mim e entre si. Os únicos que tiravam a máscara éramos eu e o Ricardo Rente, maestro e responsável pela direção musical. Fomos só nós, a equipe de câmera, o rapaz da luz e um técnico do teatro, caso precisássemos de algo. Um total de 10 pessoas dentro do teatro.

Com a experiência de quem já participou de 50 musicais na carreira, sentiu alguma dificuldade no palco? Por não haver público, por causa das câmeras…
Todas as dificuldades. (risos). Fizemos um ensaio um dia antes para não ter problema, justamente por ser gravado. Eu canto, danço para caramba, sambo… E sambar cansa não é? E vou contando causos, então da segunda para a terceira música, eu já estou num nível de desgaste… Eu sozinho, com os músicos mandando aquela bala. Então tem que ter energia para manter. E com o público, tem uma troca, a galera que vai assistir, gosta de samba, e eu ganho a plateia logo no primeiro número. A gente até brinca que se ganhar a plateia neste momento, já temos 50% do caminho percorrido. E isso acabou… E mesmo sabendo que acabou, que não vai ter nada de público, que não vai ter aplauso, eu fui pensando em tudo isto. Aquele local árido, e eu me jogando ali… É preciso se auto conduzir.

Édio é protagonista e idealizador do solo

E sobre o espetáculo em si, fizeram alguma mudança significativa em relação àquele que estreou em 2017?
Algumas pequenas, a gente se situa muito pelo momento político, então muda uma frase ou outra. Mas mantivemos a proposta principal que é levar o humor, as letras bem humoradas do Moreira, a sua picardia. Porque foi isto que ele ficou marcado, pelo samba de breque.

Naquela mesma conversa que tivemos, você disse que temia a peça não chegar ao público como você desejava nesse modelo virtual. Esse receio te acompanhou no palco?
Não, eu me livrei disso, não pensei. Não fiquei me cobrando, me criticando. Eu “enxergava” 30, 40 pessoas ali… Transformei isto em “vai chegar no público, tem que chegar de alguma maneira”. O espetáculo é muito comunicativo e tem uma pegada de humor… Num momento ou outro, eu baixo o tom, porque ele também passou muitas dificuldades. Mas como era muito irreverente, provocativo, de certa forma, imagino que isto ultrapasse a tela e chegue ao público. E eu sou assim também, envergo, mas não quebro, e coloquei essa fusão entre mim e ele. Nos ensaios, eu sempre falava que não sei onde termina Kid e começa o Moreira, onde termina o Moreira e começo eu (risos).

E você interage com a câmera? É nela que você enxerga a plateia?
Sim, minha interação com a câmera é como se ela fosse o público. Virou minha galera! Em vários momentos, eu via umas 30 pessoas ali na câmera (risos). Joguei bastante com as duas câmeras.

E com o ritmo das vacinações que temos acompanhado, quando você se imagina atuando num musical novamente, mas com público presencial?
Acho que lá para o final do segundo semestre. Talvez! Eu adoraria que fosse agora, com uma grande maioria vacinada, dentro das medidas… Mas acho que, até pela experiência que tive de perder uma pessoa, a minha tia, minha visão em relação a mundo mudou. Acho que até 2022, se for a alguma festa, com muita gente, vou ficar de máscara, usando álcool. O álcool virou meu perfume (risos). Pode até ser uma noia, mas uma noia positiva. E com o teatro, acho que vai ser assim também, pelo menos nos próximos dois anos. Não me vejo num teatro com centenas de pessoas na plateia. Devo fazer o “Kid”, futuramente, no Petra Gold, que tem capacidade para 400 pessoas, mas a ideia é liberar só 100 lugares. Esta pandemia trouxe uma sombra para nós, e enquanto não arrumarem uma grande resolução definitiva para isto, vou tomar meus cuidados. No momento, não me vejo num musical com 20 pessoas no elenco. Todo mundo precisa voltar a trabalhar. Os técnicos que fazem os musicais estão precisando… Como estão vivendo? Estas peças precisam voltar,  para os técnicos voltarem, para o cara que cuida da roldana, por exemplo, voltar. Mas é incongruência voltar agora. É difícil imaginar um musical grande assim neste ano ainda. Talvez ano que vem. Talvez!

SERVIÇO
Onde assistir: YouTube – Canal Funarj
Sessões: Domingo a quarta às 19h
Período: 25/04 a 28/04
Elenco: Édio Nunes; músicos: Ricardo Rente, Sérgio Conforti, Fernando Leitzke
Direção: Sérgio Módena
Texto: Andreia Fernandes e Ana Velloso
Classificação: 14 anos
Entrada: Franca
Bilheteria:
Gênero: Musical
Duração: 65 minutos

ROTEIRO MUSICAL
Paraíso de malandro (Sereno)
Homenagem ao malandro (Chico Buarque)
Olha o padilha (Moreira da Silva / Bruno gomes / Ferreira Gomes)
Amigo urso (Henrique Gonçalez)
1296 mulheres (Moreira da Silva e Zé Trindade)
Na subida do morro (Moreira da Silva / Ribeiro Cunha)
Acertei no milhar (Wilson Batista e Geraldo Pereira)
Fui ao dentista (Cícero Nunes e Sebastião Fonseca)
O rei do gatilho (Miguel Gustavo)
Morengueira contra 007 (Miguel Gustavo)
O último dos moicanos (Miguel Gustavo)
Faustina (Gadé)
Esta noite eu tive um sonho (Wilson batista e Moreira da Silva)
Fui a paris (Moreira da Silva e Roberto Cunha)
Filmando na américa (Moreira da Silva e Waldemar Pujol)
Samba aristocrático (Moreira da Silva e José Dilermando)
Lapa da decada de trinta (Dalmo Niterói e M. Micelli)
Piston de gafieira (Billy Blanco)

Leia Também

No data was found
Assine nossa newsletter e receba todo o nosso conteúdo em seu e-mail.