Em cartaz no Teatro Firjan-SESC, no Centro, “Contos Negreiros do Brasil” intercala histórias curtas, depoimentos pessoais e estatísticas sobre negros no Brasil. Apesar de sua dinâmica afiada, desde texto, concepção, direção, até as atuações, confesso que tive dificuldades de embarcar no discurso da peça.
O formato do espetáculo é o da defesa de uma tese. Um narrador se apresenta como um acadêmico, e expõe estatísticas para o público. Em algum momento, ele para de falar para dar lugar a uma cena, executada por outros dois atores. E assim a peça se faz, de maneira muito orgânica.
O cenário compõe-se de quatro estruturas verticais (espécies de obeliscos) que servem tanto como base para projeções quanto como quadros negros para a anotação dos números e nomes das estatísticas. Objetivo, funcional, e deixa o ambiente neutro para as variadas cenas.
Os figurinos seguem matriz africana e negra, o que vai totalmente ao encontro da proposta.
Em meio à elegância estilística (que parece ser a marca de Fernando Philbert na direção) os atores conseguem a difícil realização de manter-se no equilíbrio entre a narração e o apelo, mesmo sendo, eles mesmos, parte do esqueleto do texto, pois uma visão sobre suas próprias histórias é partilhada com os espectadores, ao final.
Por se tratar de uma estética que congrega dois registros, o racional e o emocional, nenhum deles tem grande envergadura. De um lado, a visão defendida não tem um contraponto. Do outro, as histórias são curtas, de foco único e com poucos personagens (aspectos distintivos do conto enquanto gênero literário, por isso fica aqui meu elogio à precisão do título), o que impede um processo de identificação via condução dramática. As últimas histórias escapam deste problema, pois são cômicas – muito melhor para este formato, na minha opinião.
Um abraço e até domingo que vem!
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