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Estética e comicidade ímpares marcam ‘Nastácia’, no CCBB

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Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Em cartaz no Teatro III do CCBB, “Nastácia” se passa na noite do aniversário de Nastácia Filippovna, personagem de “O Idiota” (1869), uma das obras mais célebres de Fiódor Dostoiévski. Com dramaturgia assinada por Pedro Brício e direção de Miwa Yanagizawa, o espetáculo é de qualidade rara.

A narrativa se desenvolve inteiramente no mesmo local, no apartamento de Nastácia, na festa onde será anunciado o seu noivado com Gânia, escolhido e comprado por Tótski, “responsável” pela moça. O clima de confraternização é pontuado por momentos de tensão, mas tudo acontece de forma muito sutil e gradual, uma das maiores qualidades da montagem. Não é exatamente um minimalismo, muito menos um naturalismo: há inúmeros rompantes (sobretudo de Nastácia), quebras de quarta parede (participação dos espectadores), apartes cômicos inesquecíveis (a cargo do ator Odilon Esteves), dentre outros elementos que evidenciam uma “teatralidade” única. O compromisso me pareceu ser com a noção de uma condução dramática que envolva o espectador, não só no enredo (como normalmente se busca) mas na própria linguagem. É como se a peça fosse “comendo pelas beiradas” em uma espiral que vai gradualmente culminando no olho do furacão; a comicidade entra nesse jogo, intercalando tiradas sutis com quebras bruscas de dinâmica. É sensacional!

O cenário de Ronaldo Fraga é um espetáculo por si só, não à toa a encenação se define simultaneamente como “peça teatral e instalação artística” e a sala fica disponível para o público do CCBB fora dos horários da peça.

Os figurinos, também de Ronaldo Fraga, dão o tom da aristocrática Rússia do século XIX, mantendo o pé na realidade histórica de modo que cenário, adereços e atuações possam alçar voos.

Os atores são os responsáveis pelo equilíbrio na dinâmica, parte imprescindível da experiência. Julio Adrião incorpora o pragmatismo de Tótski como centro gravitacional do conflito, e mantem-se sóbrio na atuação, o que libera Flávia Pyramo e Odilon Esteves para colorações mais fortes. Ela, no âmbito sério, se aventurando na verticalidade quase bipolar de Nastácia; ele, na comicidade ímpar já mencionada, uma mistura entre o “blasé” de um Robert Downey Jr. e a inocência pura de um Chaplin. Imperdível!

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para pericles.vanzella@rioencena.com.

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