Em cartaz no Teatro XP Investimentos, antigo Teatro Municipal do Jockey, “Ícaro and the Black Stars”, como o próprio nome sugere, tenta fazer um paralelo entre o ator Ícaro Silva e uma herança musical negra através de um show musical com repertório específico.
O fio condutor do espetáculo é a viagem no tempo e no espaço de uma nave e tripulação que buscam países e épocas em que a música negra se fez notar. Assim, a nave sai dos Estados Unidos dos anos 30, pousa no Brasil de Tim Maia, volta para a Jamaica de Bob Marley, de modo que o “pout-pourri”, tanto musical quanto histórico, temático, é o mais imprevisível possível, o que é interessante.
Musicalmente, há uma banda e uma DJ, além de três cantores que cantam bem! Todos parecem muito à vontade em cena, o que contribui para o estabelecimento de um clima de entretenimento. As coreografias ajudam nessa empreitada, pois dosam muito bem a homenagem aos artistas e estilos retratados com o nível de dificuldade condizente com os cantores em cena.
O espetáculo é perpassado por um viés político, por vezes assumido e por vezes subliminar, e é isso que me preocupa: a tecla da valorização da cultura afro está sendo tocada repetidamente nos últimos anos – como o próprio convidado do show expôs na ocasião, “ser negro hoje está na moda” –, assim como a panfletagem no palco das peças cariocas. Temo pelo desgaste de ambas as práticas. Temos que pensar em formas alternativas de manifestarmos nossas opiniões políticas e sociais no teatro; sobretudo quando esta manifestação é ostensiva.
Um abraço e até domingo que vem!
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