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‘Jogo da Vida – O Musical’ transborda coragem, criatividade, e polimento

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Tempo estimado de leitura: 3 minutos

A crítica de hoje é especial, por duas razões. A primeira é pelo espetáculo em si, que é excelente em todos os sentidos! E a segunda, é porque é a primeira vez que duas peças da mesma equipe são analisadas em sequência: “Frida, Frida, Frida”, a crítica da semana passada, é dos mesmos criadores de “Jogo da Vida – O Musical”, a crítica de hoje. Por um acaso do destino, minha opinião sobre as duas montagens diverge bastante. Em comum, ambas abrigam várias histórias e buscam inovar, trazem um formato diferente. Mas os paralelos param aqui, mesmo porque este texto é para ser uma crítica e não uma análise comparativa. Vamos a “Jogo da vida”!

A peça, como o título retrata bem, é um tabuleiro. Quatro peões, cada um com sua cor e ator, tentam avançar casas e ganhar o jogo.

Cenário e figurino compõem-se das quatro cores dos quatro peões clássicos de jogos de tabuleiro dos anos 90: verde, azul, amarelo e vermelho. Enquanto o cenário coloca praticáveis e biombos, os figurinos elaboram acessórios, tudo na exata mesma tonalidade dos peões em questão.

As músicas são difíceis e não convencionais, o que é fundamental para ajudar a estabelecer a contradição que perpassa a peça, de uma realidade aparentemente fixa, mas que é transcendida a todo o momento, por peões que são mais do que peões: são personagens.

Em uma dramaturgia que se auto define “criação colaborativa”, não surpreende que os atores estejam absolutamente à vontade em tudo o que fazem, criando inúmeras nuances e hilários no último grau. O que surpreende é que todo este “conforto” se dá em uma peça que exige muito, não só pela precisão das marcações e diversidade de cenas e papéis, mas pela quantidade de apartes e quebras de quarta parede, que demandam a calma e a consciência de controlar a atenção do espectador, sem perder o ritmo, e coletivamente.

A grupo Arina realmente conseguiu alcançar, com “Jogo da vida”, uma confluência de originalidade e polimento de formato que é muito, muito raro de se ver! Escolheu um tema muito interessante, pouco encenado e que fala a todos (pelo menos a todos acima dos 20 anos, pré era digital rs), que é o mundo dos jogos de tabuleiro. Conseguiu dar uma personalidade a este mundo, com peões que são personagens sem deixar de serem peões, que seguem “regras” materializadas em uma voz (que fala ao vivo) que interage com eles e cujo ator agradece no final, junto com todos (ótimo!). Conseguiu criar uma personagem “humana” que quer ser peão, algo totalmente inesperado. Conseguiu criar histórias extremamente engraçadas, que ironizam padrões de comportamento bem universais, e criar vínculos entre estas histórias sem que elas perdessem autonomia. Conseguiu surpreender no andamento das histórias, na relação entre elas e delas com a personagem “excluída”. Conseguiu traduzir tudo isso em cenas de identidades próprias, divertidas por si só. Conseguiu incluir os espectadores (e até o programa do espetáculo!) no jogo. Enfim, o espaço já acabou faz tempo, e não posso abrir mão do próximo parágrafo.

Normalmente, quando uma montagem consegue propor algo novo, o resultado fica ruim ou hermético, falando a pouquíssimos espectadores. No outro polo, o teatro dito “comercial” costuma apostar em formatos consagrados, onde os códigos já são dominados por criadores e público. O equilíbrio é joia preciosa, e como o teatro é efêmero, “Jogo da vida” não é só um programa obrigatório para os amantes de teatro, como joga (sem trocadilhos) para a Arina a responsabilidade sobre seus próximos espetáculos, que terão de lidar com um histórico de uma obra que conseguiu reunir dois mundos.

Um abraço e até domingo que vem!
Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para: pericles.vanzella@rioencena.com.

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