Lançado no longínquo ano de 1928, o romance “Macunaíma, o herói sem caráter”, que vasculha a mitologia indígena e as especificidades da cultura e do povo brasileiros, acaba de ganhar uma releitura teatral com o espetáculo “Macunaíma – Uma Rapsódia Musical”. A mais nova produção da Companhia Barca dos Corações Partidos, que promete repassar o clássico de Mário de Andrade (1893-1945) com performance e música, suas marcas registradas, inicia sua primeira temporada no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (05), às 19h, no Teatro Carlos Gomes, no Centro.
E no que depender de seus antecessores, a peça, que passou por São Paulo e Belo Horizonte antes de chegar ao Rio, deve fazer sucesso. Em 2017, a Barca estreou “Auê” e faturou três prêmios Cesgranrio, três Aptr (Associação dos Produtores de Teatro do Rio) e um Shell. Já em 2018, com “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, foram três prêmios Shell, quatro Aptr e quatro Cesgranrio.
Outro fator que pode levar o espetáculo ao caminho das premiações é a diretora Bia Lessa, convidada para conduzir “Macunaíma” pela produtora Andréa Alves, idealizadora do projeto. Após um hiato de 10 anos longe dos palcos, Bia vem de um trabalho arrebatador, “Grande Sertão: Veredas”, que também conquistou inúmeros troféus.
Numa estrutura mais próxima a de uma ópera do que a de um musical tradicional, o espetáculo é apresentado por 13 atores – sete do elenco original da Barca e mais seis escolhidos a partir de testes – que interagem com um músico – há ainda as vozes em off de Maria Bethânia e Arnaldo Antunes. Sob direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos, a montagem apresenta canções originais, além de alguns trechos da própria adaptação teatral que foram musicados pelo grupo.
Somado a esta arrumação musical, está o texto de Veronica Stigger, que ao procurar ser fiel ao original sem deixar de levá-lo para o conceito da encenação, foi promovendo modificações ao longo dos sete meses do processo de montagem.
A partir desta união entre dramaturgia e música, “Macunaíma – Uma Rapsódia Musical” propõe uma reflexão sobre a vida contemporânea, que em muitos aspectos não se distancia muito do romance de Mário de Andrade publicado há mais de 90 anos. Apesar de ares de comédia, o protagonista é uma figura que representa muitas mazelas com as quais o país convive não de hoje apenas.
Índio e quilombola, Macunaíma deixa sua tribo natal rumo ao Sudeste à procura do Muiraquitã, um tipo de amuleto que ganhou da amada. Se sentindo deslocado num local onde tudo lhe parece assustador, o personagem tem encontros com deuses, mitos e monstros, e passa por aventuras e transformações, antes de voltar para sua casa, que já não é mais a mesma. De frente para sua terra dizimada, o herói indígena é levado a um questionamento: ainda há lugar para ele no mundo?