Comemorando 10 anos de um dos maiores marcos da carreira de Charles Moeller e Claudio Botelho, que popularizaram os musicais americanos no Rio de Janeiro, “O Despertar da Primavera”, do alemão Frank Wedekind, faz sua temporada no Teatro Net Rio, em Copacabana. Com uma estética que tira a dupla de sua zona de conforto (de forma muito acertada, mais uma vez), a montagem revive a intensidade de jovens atores na cena carioca, hoje bem mais “musical” que na década passada.
O enredo se passa na Alemanha do final do século XIX, em uma comunidade ultra conservadora onde adolescentes, no auge de sua curiosidade sobre sexualidade, a vida adulta, moralidade, são tratados com excesso de rigor. Nesta tensão constante, buscam a si próprios para produzirem o seu “despertar”, que acontece nos espaços que a ordem vigente não alcança.
O cenário compõe-se de uma grande estrutura em “U”, repleta de passagens que permitem entradas e saídas de muitos atores ao mesmo tempo, o que dinamiza todas as transições. Mesmo desprovido de detalhes ou grandiosidade, o que é incomum em musicais e nos realizadores Moeller/Botelho, o cenário funciona muito bem, não só por sua praticidade mas por conseguir criar um ambiente que remete a certa clandestinidade e claustrofobia, que têm tudo a ver com a história.
Os figurinos seguem a mesma linha: conseguem traduzir com precisão a estética da época e a formalidade daquele contexto.
Os jovens atores (que parecem parear a idade com seus personagens) são a expressão do que a peça retrata: uma irmandade onde cada um contribui com o todo naquilo que faz de melhor, entre atuação, canto e dança. A área de maior carência de um ator encontra expressão no outro, de modo que o conjunto fica harmônico, e mesmo as inseguranças desempenham um papel: são a tradução cênica da essência da juventude. Uma exceção notável é Tabatha Amaral (Wendla), que além de aparentar conforto nas três artes, ainda imprime vigor fundamental à protagonista.
Um abraço e até domingo que vem!
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