Em cartaz no Teatro II do CCBB, “O Pirotécnico Zacarias”, do grupo Giramundo, é uma ebulição visual, que carrega a atenção do espectador mesmo com ação dramática dispersa.
A cenografia de Marcos Malafaia e Daniel Bowie elabora um espaço cênico de três planos: 3 grandes caixas/contêineres compõem o centro do palco, com a parte da frente vazada. Em cima delas, temos o plano superior; dentro e à frente das caixas, os dois planos inferiores. As cenas se revezam entre os planos de forma muito orgânica, algo difícil de ser realizado com tamanho dinamismo. É a beleza desta concepção plástica (a direção do espetáculo também é de Marcos Malafaia) que chama a atenção na montagem, somada à riqueza de adereços (entre eles bonecos e máscaras) e à qualidade dos vídeos e imagens projetados por todo o espaço – ora de forma recortada, ora contínua, mas sempre complementando-se e em total harmonia com o ambiente como um todo.
O enredo é totalmente disperso, e é muito difícil seguir uma linha narrativa, uma ação dramática principal, entendendo a trajetória do protagonista. Não se sabe direito o que é realidade e o que é fantasia. Mesmo que esta tenha sido a intenção da montagem (e acredito que foi, pois no programa consta que “por algum momento a mira foi adaptar os contos de Murilo Rubião para o teatro de bonecos. Miragem…”) acaba sendo frustrante não entender o que está acontecendo diante de nossos olhos. Mesmo diante da imensa beleza de tudo (e talvez exatamente por conta de tanta beleza), a vontade de se sentir minimamente incluído naquele universo mágico não deixa de assolar o espectador.
As atuações acompanham o caráter alegórico da cenografia. Apesar de sua qualidade simbólica, de um modo geral, há pouca dinâmica, tanto corporal quanto vocal; poucas quebras de ritmo, poucas tiradas cômicas, poucas interrupções surpreendentes no andamento. Tudo segue uma cadência uniforme, o que acaba tirando do espectador a expectativa pelo que pode acontecer, efeito agravado pela fragmentação da ação dramática.
No fim, somos tensionados entre o hermetismo do século XX e o valor inestimável (e cada vez mais ausente) da beleza na obra de arte. Curioso contraste…
Um abraço e até domingo que vem!
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