Em cartaz no SESC Copacabana, “Prova de Amor” é uma mediação de (re)ações e reflexões do público acerca de temas como censura e ditadura (apresentadas de forma indissociada). No limiar entre ficção e realidade, a peça provoca constantemente a participação do público, verbal e fisicamente.
Ao entrarmos na sala, há uma mesa com bebidas e outros aparatos de cozinha, uma mesa de luz, uma mesa com um mimeógrafo, pessoas transitando e cadeiras empilhadas nos cantos. Os atores, então, começam a pegar estas cadeiras e organizá-las em um grande círculo; muitos espectadores ajudam. Sala arrumada, os atores sentam em locais específicos da plateia e anunciam que a peça foi censurada, mas que eles decidiram estar presentes mesmo assim, para promover uma discussão. E assim o espetáculo inicia-se.
O cenário vai sendo construído à medida que a peça transcorre, de maneira tão orgânica que é quase imperceptível. Enquanto um ator fala ou age, outros transitam com cadeiras, cordas, ou pregam folhas de papel (impressas no mimeógrafo) nas paredes da sala.
Tudo é feito em articulação com a descrição para o público: seja do que está acontecendo, seja do que motivou a montagem a encenar aquele momento daquela maneira, seja de leituras possíveis para a cena. Frequentemente, a participação do público é requisitada. Por vezes, de forma livre; por vezes, um ator escolhe o espectador que deve se manifestar. Não raro nos sentimos perdidos sobre o que fazer, para onde olhar, o que é esperado de nós.
E é essa sensação que quero deixar como ponderação aqui, ainda que eu entenda que ela funcione como o principal motor do espetáculo e que seja a intenção da equipe gerar desconforto no espectador e tirá-lo da posição passiva: a peça produz momentos de interação de pessoas que, sem a intervenção dos atores, muito provavelmente, agiriam de outra forma. Não é isso que a censura faz, a nível governamental?
Um abraço e até domingo que vem!
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