Fim de ano é sempre uma época propícia para se reavaliar o que foi feito nos 12 meses anteriores, mas também para traçar planos e metas para os 365 dias seguintes. Às vésperas da virada, o RIO ENCENA perguntou a alguns artistas que estiveram em cartaz no Rio de Janeiro em 2018 o que eles esperam e desejam para 2019.
Numa virada de ano que marca também uma mudança bastante relevante nos governos federal e estadual – com as entradas de Jair Bolsonaro (PSL) e Wilson Witzel (PSC), respectivamente – o desejo de atores, autores, diretores e produtores é que haja prosperidade para as artes cênicas no estado e no país no ano que se inicia na próxima terça-feira. Isso, claro, sem deixar de fazer teatro na raça e na coragem como é de costume para a maioria por aqui. Confira abaixo os depoimentos dos entrevistados e um feliz 2019!!!
Luciana Fávero e Gustavo Paso – atriz e diretor da Cia. De Teatro Epigênia
Abriremos o ano levando “Casa Caramujo” para Recife e ainda por lá apresentaremos no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos nosso “Hollywoodd”, que acaba de sair de sua terceira temporada em São Paulo – e inclusive concorre na categoria Melhor Direção aos prêmios Shell e Apca. Chegando de volta ao Rio, direto para sala de ensaio, para prepararmos “O Preço”, de Arthur Miller que estreará em março no Sesc Arena Copacabana. A Cia. ainda prepara outras surpresas para 2019. Na luta e resistência, sigamos! Acreditamos que será mais uma vez um ano com muita luta e a arte mais uma vez deve ser um dos antídotos colaborativos para a transformação.
Breno Sanches – ator, diretor e dramaturgo da Cia Teatral Milongas
Em 2019, irei estrear em janeiro no Teatro Ipanema, um novo espetáculo infantil: “Quem disse?” de Ana Luíza França, que fui convidado para dirigir. E com a Cia Teatral Milongas, vamos estrear dois novos projetos: o monólogo “Homem Feito” de Rafael Souza Ribeiro, com supervisão de direção do Rodrigo Portella, no qual vou atuar; e estamos em processo de pesquisa e criação de um espetáculo ainda sem título, com os atores Hugo Souza e Roberto Rodrigues, com minha direção e dramaturgia. A princípio, todos os projetos estão sendo feitos com recursos próprios, ainda estamos buscando parceiros e patrocínios, mas nossa realidade nos últimos dois anos tem sido essa, produzir na raça para não parar.
Jean Mendonça – diretor do espetáculo “O Segundo Armário”, Cia. Banquete Cultural
O teatro precisa retomar seu lugar de resistência neste ano 2019 que se abre. Forças conservadoras emergem por todos os lados e usam perversos recursos midiáticos para moldar a opinião pública e formar uma massa da ignorância, no sentido lato da palavra. Ionesco quando escreveu “O rinoceronte” conseguiu ilustrar bem nossos tempos modernos. Não podemos fazer parte da manada. O ser humano precisa ser único, sem modelos pre-estabelecidos. O teatro, assim como as artes em geral, tem o poder de ampliar a consciência, estimular o pensamento e dar vida a questões fundamentais na sociedade, como a liberdade e o respeito às diferenças. Acredito que a semente foi lançada em meio a tantas lutas políticas e sociais. Muitos artistas mostrarão o real sentido de sua existência. Espero “banquetear” o público teatral com novos questionamentos através da minha arte de essência.
Alexandre Barros – estreia “Segredo de Justiça” em 17/01 no Sesc Ginástico
Minha meta é que o teatro faça mais parte da vida do público em 2019. O teatro é o lugar do sonho, do debate – e estamos precisando sonhar juntos e debater juntos. Meu próximo espetáculo, “Segredo de Justiça”, a partir da obra de Andréa Pachá, com direção de Marco André Nunes, idealizado por mim e pela Carmen Frenzel, vai estrear dia 17 de janeiro no Sesc Ginástico – e pretende, além de divertir, promover uma grande assembleia com o público para que possamos refletir juntos.
Alexandre Galindo – estreia “Falta” em fevereiro no Sesc Tijuca
O ano 2018 foi difícil para a produção teatral no que diz respeito a incentivos. Espero que em 2019 o Brasil possa manter os incentivos que já existem, como por exemplo o Sistema “S”, que está em pauta no momento, e que possam surgir novas iniciativas e oportunidades para que seja ampliada a abrangência das produções. Ao falar em abrangência, considero muito importante que tenhamos mais ações e mais incentivos, voltados para a descentralização dos espetáculos que, em grande parte, ocorrem, predominantemente, no eixo zona sul – centro do Rio de Janeiro. Para a formação de plateia é necessário que os espetáculos passem a existir, fora desse eixo, de modo sistemático. E minha meta é estrear dois espetáculos inéditos no Rio de Janeiro e estrear “A Festa de Aniversário” de Harold Pinter em São Paulo.
Nena Inoue
Minha meta para 2019 é apresentar o espetáculo “Para não Morrer” em 50 cidades do interior do Paraná, com maior índice de feminicídio, maior índice de violência, maior concentração de negros e de indígenas (incluindo regiões quilombolas e reservas indígenas) e cidades com menor IDH do estado, em projeto aprovado no Edital da Secretaria da Cultura e em vias de captação. E temos ainda temporada já marcada para janeiro e fevereiro em Curitiba, no Teatro Lala Schneider. Soma-se a isso o desejo realizar nova temporada no Rio de Janeiro, que me recebeu super bem na temporada do Teatro Poeira, me proporcionando a indicação ao Prêmio Shell na categoria Melhor Atriz, e efetuar ainda uma circulação pela America Latina, especialmente no Uruguai. E onde mais tiver espaço, tô indo
Gaby Haviaras – integrante da Companhia de Teatro Íntimo
Em 2019 queremos trazer o repertório da Companhia de Teatro Íntimo para São Paulo. Um projeto que é bem antigo, mas que foi impulsionado com o convite de fazer João Cabral na semana Ibérica em Abril. Ainda tem a estreia de “Roma”, um romance LGBTI+. E Sarau de poesia. Além de muito trabalho e, como sempre e mais do que nunca, resistência, teatro e amor!
Ney Piacentini – estreia “Espelhos” em 03/01 no Teatro Poeirinha
Em 2019, depois de me apresentar no Rio (a partir de 03/01) com “Espelhos” (de Machado de Assis e Guimarães Rosa), o horizonte é me envolver com a ternura do livro “Infância” de Graciliano Ramos e, se disso surgir um trabalho teatral, tanto melhor. Estou estudando a sua obra, pretendo viajar para o interior de Alagoas, pelas cidades em que ele viveu quando menino. Gostaria de ir o mais longe possível nessa aventura para que eu seja transformado e, assim quem sabe, a minha arte possa mudar algo em alguém que a veja.
Simone Kalil – participa do projeto Verão com Arte, no Teatro Gláucio Gill, com os espetáculos “Brimas” e “Zilda Arns – A dona dos lírios”
Espero que em 2019 haja editais públicos de patrocínio cultural sem qualquer calote aos artistas envolvidos. Que as produções possam ter circulação abrangente em todas as áreas geográficas da cidade. Espero que a Escola de Teatro Martins Penna continue formando atrizes e atores, com qualidade e excelência como faz há 110 anos. Desejo que a comemoração dos 60 anos do Teatro Gláucio Gil com o Festival Verão com Arte tenha lotação esgotada em todas as apresentações. E, claro, que o teatro carioca tenha estreias inspiradoras, com plateias sempre cheias.
Clara Santhana, participa do projeto Verão com Arte, no Teatro Gláucio Gill, com o espetáculo “Deixa Clarear, musical sobre Clara Nunes”
Precisamos manter viva a crença no nosso ofício, na qualidade de nossas realizações e no teatro como elemento vital para o fomento da criatividade, da beleza, do desenvolvimento de pensamento crítico de nossa sociedade… Os últimos tempos têm sido obscuros, mas há flores nascendo no asfalto. Movimentos muito potentes acontecendo. Acredito no movimento e com tudo que estamos vivendo uma coisa é certa: faremos teatro! Em 2018, comemoramos cinco anos de “Deixa Clarear” e percebo a cada apresentação o quão vibrante é a memória de Clara no público e o quanto ainda queremos e devemos fazer esta peça. Clara Nunes será enredo da Portela no carnaval em Março e as homenagens não param de ecoar. Em 2019 já começamos com uma temporada no Teatro Glaucio Gil pretendo ir no embalo para outras cidades. Além disso, estou em fase de pesquisa para um novo musical, que trata da relação de duas importantes figuras históricas, para estrear em 2019. Que seja um lindo ano para o teatro!
Pedro Henrique Lopes – apresenta ‘Bituca – Milton Nascimento para Crianças' e ‘Tropicalinha – Caetano e Gil para Crianças' na Cidade das Artes em janeiro e fevereiro
Abrir um novo ciclo anual sempre enche a gente de esperança e de desejos para o novo ano. Espero que em 2019, tenhamos muitas oportunidades na cultura do nosso país. Temos como metas um espetáculo novo do “Grandes Músicos para Pequenos” e um espetáculo de teatro adulto também. Os títulos ainda são confidenciais, mas em breve estaremos nos palcos!!!
Leonardo Chaves – estreia a peça “Cotidiano Autoritário Brasileiro” no primeiro semestre de 2019
Meta: Resistir, florescer e atuar dentro e fora dos palcos.