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Música africana: alívio musicoterapêutico para a insanidade de nossos dias

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

A última semana foi muito insana no nosso país. Atingimos o recorde de 100 mil mortos por Covid-19 e assistimos abismados ao fundamentalismo religioso querer atravessar o direito à preservação e saúde de uma criança violentada. Esse clima trágico de desgoverno e loucura social que nos chega todos os dias pelas mídias, me fez querer passar os últimos dias buscando por alívio através da música clássica. Quando falo deste gênero, não estou somente discutindo os compositores ocidentais como Mozart, Chopin, Beethoven ou Franz Schubert, mas incluo também a música tradicional de diferentes povos africanos e as suas misturas contemporâneas.

A musicalidade, segundo a pesquisadora Azoilda da Trindade, é um dos valores afro-civilizatórios que parte do continente africano e ressoa nas múltiplas diásporas, como a afro-brasileira. Para os povos de origem Bantu, a música é o ritmo que conduz a existência, pois como fala o filósofo bakongo Fu Kiau, “todos nós temos uma percussão dentro de si” e a sua batida rítmica comanda nossos movimentos, pensamentos e vibrações.

Nessa busca arteterapêutica, consumi muita música tradicional de África em concertos-lives, playlists do Spotify e shows gravados disponíveis no Youtube. Começando com Fela Kuti, seus vídeos, principalmente o “Fela Kuti & África 70”, são uma mistura de ritmos percussivos tradicionais nigerianos acrescidos de instrumentos de metal costurados por uma estética pluriétnica. Fela Anikulapo Ransome Kuti foi um multi-instrumentista, cantor e compositor nigeriano, precursor do gênero musical Afrobeat, além de atuar no ativismo político contra o regime autoritário de Olusegun Obasanjo, de quem foi inimigo político declarado.

Fela Kuti (E), Salif Keita, Mamadou Diabate e Ali Farka Touré Fotos: Reprodução/Internet

Passei, ainda, por Salif Keita, musicista-griot do Mali, conhecido como “A voz de ouro da África”. Sua música mistura estilos tradicionais do oeste africano com música européia e islâmica, utilizando instrumentos como balafons, djembês, guitarras, koras, saxofones e sintetizadores. Também me deliciei com Ali Farka Touré e a gravação “Heygana”, em que o guitarrista malinense mistura os ritmos tradicionais com o blues afro-americano. Farka Touré é, para mim, um dos mais geniais musicistas africanos do século XX, e o vídeo dele com Boubacar Traoré, outro guitarrista genial que o Mali nos deu, cantando “Duna Ma Yelema” é bonito, sensível e emocionante. Terminei o meu percusso com o álbum “Tunga” do burkinabe Mamadou Diabate, um exímio musicista conhecido por sua habilidade no Kora (ou Corá), instrumento de origem africana, uma espécie de harpa-alaúde de 21 cordas.

Após essa busca por equilíbrio mental através da música, me senti mais alegre e fortalecida para continuar a vida. A mensagem, portanto, que quero passar essa semana, é que a arte salva. Literalmente! Ouvir esses artistas fortaleceu o que os Bantus chamam de Ntu ou Força Vital, aquela energia que pulsa vida. E nesse tempo histórico, mais do que nunca, ouvir música tem sido um acalanto pros nossos dias.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

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