Estamos na semana do 20 de novembro, dia dedicado a refletir sobre a condição dos negros no Brasil, sua história e as implicações do racismo. Com foco no combate ao epistemicídio (morte e apagamento dos conhecimentos e tecnologias negras) e na promoção da equidade racial, trago três sugestões de programação para vocês entrarem no clima e refletirem a data.
Quero começar com o espetáculo “Eu Amarelo: Carolina Maria de Jesus”, em homenagem aos 60 anos de publicação do livro “Quarto de Despejo”, best-seller da catadora de lixo que se tornou um fenômeno editorial na década de 60. Traduzida em 13 idiomas para 80 países, Carolina Maria de Jesus usava a literatura para desvelar, refletir e criticar as condições de desigualdades no Brasil. Uma ótima pedida para entrarmos no clima reflexivo proposto pela semana da consciência negra.
O espetáculo protagonizado por Cyda Moreno e dirigido por Isaac Bernat estreia amanhã, dia 19, às 19h, ao vivo, no canal do YouTube do Sesc Rio (aqui), seguido de um bate-papo com a atriz e o diretor. Sensível, lírico, crítico e profundo, passeamos pelo pensamento da escritora nos emocionando e refletindo sobre o que é viver neste país racista sendo negra e pobre.
A segunda sugestão é o Festival Ori, promovido pelo Cultne, o maior acervo audiovisual de cultura negra da América Latina. O festival, no formato de revista eletrônica, traz música, performances, humor, debates e fôlego para pensar a data como possibilidade de vida para a população afrodescendente. Serão seis horas de transmissão com a presença de grandes nomes negros do cenário nacional, como Liniker, Sueli Carneiro, Rodrigo França, Lázaro Ramos, Léa Garcia, Thamyris Borsan, Altay Veloso e Serjão Lorozza, entre outros – além de um time de apresentadores do qual eu também faço parte. O festival acontece no dia 20, a partir das 15h, no canal do YouTube do acervo (aqui)
A terceira sugestão é “Contos Negreiros do Brasil”, espetáculo estrelado por Rodrigo França, Valéria Mona, Aline Borges, Marcelo Dias e Milton Filho, o texto de Marcelino Freire e a direção de Fernando Philbert. Em cartaz desde 2017, com um público de mais de 60 mil espectadores, “Contos Negreiros” estreou a versão online no último dia 09 e segue até 30 de novembro, sempre às segundas-feiras, com ingressos a R$15 pelo Sympla.
Visceral, didática e objetiva, essa é uma das melhores peças sobre o racismo brasileiro. Essencial para ser vista por todos, pois explicita em tom documental a condição real e atual da população negra no Brasil; seja o jovem estudante, o gay negro, a negra hipersexualizada pela sociedade, o menor infrator, a prostituta ou a idosa. A peça também faz uma grande homenagem aos personagens negros que fizeram história, mas que foram esquecidos ou embranquecidos, como: Machado de Assis, André Rebouças, Carolina Maria de Jesus, Virgínia Bicudo e Lima Barreto.
A arte é agente de movimento, lucidez e foco, e nada melhor do que ela para travar uma discussão tão importante quanto esta, pois o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo ao mesmo tempo em que também promove o genocídio negro em dimensões monumentais. Pensar o 20 de novembro também é pensar sobre caminhos de vida para esta população. E eu espero que vocês se sintam nutridos com estas sugestões.
Este texto contou com a ajuda da incrível Naira Fernandes, promoter da Ébano Produções Artísticas a quem explicito meus agradecimentos.
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