Estreou na plataforma Sympla Streaming, no último fim de semana, a peça “Jogo do Jogo”, sobre as violências domésticas na pandemia. Nela, somos convidados a entrar numa casa de quatro cômodos onde em cada um encontramos histórias de agressões contra mulheres feitas por maridos e pais. Uma dura realidade que se agravou no cenário pandêmico: atualmente uma mulher morre dentro de casa a cada nove horas, e esse fenômeno não é exclusivo do Brasil, é uma desgraça mundial.
Urgente na temática, bem trabalhada na cena. A escolha pelo ao vivo entrecortado por gravações trouxe dinâmica e liberdade para explorar outros cenários; o uso das vinhetas aproximou a peça dos produtos audiovisuais, mostrando um hibridismo.
As cenas são bem dirigidas, resultado da direção coletiva de Diana Herzog, Isadora Medella, Pâmela Côto, Patrícia Vazquez, Rafaela Amodeo, Lorena Lima, Nivea Magno e Verônica Bonfim. O coletivo também assina o texto que é denso, forte e expressa artisticamente os medos e desesperos destas mulheres.
Eu fiquei impactada com a cena das mensagens de Whatsapp e fiquei pensando o quanto as violências também se adaptam às tecnologias. O julgamento social, as dificuldades com a polícia e a justiça, o silenciamento e as agressões mostram as diferentes faces da violência contra a mulher, seja ela cis ou trans.
A obra também tem uma importante dimensão pedagógica, pois a partir destas experiências, somos educados sobre o cenário e ficamos alertas às situações de violência com a gente ou outras mulheres em nosso entorno. É uma peça que os homens deveriam ser maioria na plateia para que imprimam em suas consciências a reprovação da violência física, psicológica, matrimonial e patrimonial contra as mulheres.
Vale ressaltar a metáfora do título. O jogo em questão tem muitas leituras: o jogo das relações, o jogo interativo proposto pela peça, o jogo do jogo de brincar com as vidas dessas mulheres. Os homens agressores jogam com as vidas delas, e o espectador joga o jogo destes homens. Não tem como não sairmos impactados.
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