Em abril de 2020, o jornalista e escritor Rodrigo Alvarez, ex-correspondente da TV Globo nos EUA e na Europa, lançava o seu livro “#MadalenaSemFiltro”, que traz a polêmica personagem da Bíblia falando em primeira pessoa, indignada com as injustiças que sofreu ao longo dos séculos e reconhecida como uma verdadeira apóstola de Jesus Cristo. Agora, um ano depois, a obra vira peça de teatro – apresentada de maneira remota, por conta da pandemia.
O solo “#MadalenaSemFiltro” nasceu depois que a atriz Lays Ariozi leu o livro de Rodrigo. E ao entrar em contato com o jornalista, ganhou a sua companhia na assinatura da criação do espetáculo, que inicia curtíssima temporada nesta quinta-feira (22) no YouTube , onde segue até domingo (25), sempre às 20h. Responsável ainda pelo texto e pela direção, Lays aborda em cena temas super atuais – mas que, na verdade, nunca deixaram de estar em voga, desde os tempos bíblicos – como machismo e feminicídio.
— Madalena nos representa de forma genuína, revelando o amor, a potência do feminino e a força de gerações de mulheres que lutam por reconhecimento e justiça. Meu objetivo com esse espetáculo é também trazer um pouco de esperança e empoderamento em tempos tão difíceis — destaca Lays, que teve o apoio de Rodrigo Alvarez desde o primeiro momento.
— Quando Lays me procurou querendo fazer uma peça baseada no meu livro sobre Maria Madalena, não tive dúvidas de que era um projeto pertinente, relevante e atualíssimo. Penso que, em grande parte, é isso o que esperamos da arte! Acabei me envolvendo e me tornando cocriador. Penso que mulheres e homens vão ver na peça um entretenimento libertador; ao mesmo tempo uma catarse e uma reflexão sobre os rumos da nossa sociedade — complementa Rodrigo.
A protagonista de “#MadalenaSemFiltro”, no entanto, não é exatamente a apóstola, mas, sim, Madalena, uma mulher contemporânea que pode despertar um senso de identificação em muitas mulheres. Ela é uma atriz que, às vésperas de estrear uma peça teatral junto ao namorado, passa a sofrer com uma crise de ciúmes dele, que acarreta em agressões verbal, moral e física. Assim, ela se vê em meio a um dilema: seguir o grande sonho de brilhar no palco ou respeitar a sua dignidade enquanto mulher?
Dividido em dois tempos – o passado é o início da pandemia, enquanto o presente se passa em 2023 – o espetáculo pega as dores vividas pela personagem – como término traumático, agressão e machismo no ambiente profissional – e, aí sim, traça um paralelo com a Madalena da Bíblia, que até ser considerada, de fato, uma apóstola de Cristo, passou séculos sendo desprezada e vista como prostituta.