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‘Ela & Eu: Vesperal com Chuva’: oportunidade para refletir

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

“Ela & Eu: Vesperal com Chuva”, além de ser uma ótima oportunidade para ver a veterana Suely Franco no teatro, é uma comédia dramática sobre o envelhecer e a lucidez do fim da vida baseada no conto “Vesperal com chuva”, de Lúcia Benedetti. Acompanhamos, portanto, uma senhora revisando sua vida, erros e acertos, e a conexão com o público se dá justamente na dimensão humana; difícil não se identificar com as angústias da mulher, afinal velhice e a finitude atravessam a todos nós.

O título da obra é muito interessante, já que vesperal relaciona-se a espetáculo, concerto ou outro divertimento realizado à tarde, abrindo-se para uma metalinguagem. O entardecer também é considerado uma metáfora para a morte, e quando vamos às filosofias africanas, como a filosofia bacongo, vemos que o muntu – ser humano – é como um sol vivo que nasce para a vida, chega na plenitude do Sol do meio-dia e caminha para se pôr no entardecer da existência.

De alguma forma, a peça também me fez refletir sobre a possibilidade de envelhecer com dignidade. E não tem como não pensar na sociedade brasileira e as suas desgraças, em que numa pandemia com quase 550 mil mortes, envelhecer torna-se um privilégio. Será que eu chegarei até lá?

A discussão existencial é costurada pelo humor: com a língua afiada, a personagem se torna uma típica velha fofoqueira e rabugenta. A construção da “mulher careca” é bem engraçada e, de alguma maneira, vi minha mãe e tias idosas na personagem. Esta camada de risível serve para avaliarmos as nossas chatices, “mal-humores” e teimosias que se espelham nas atitudes e falas da mulher.

Suely Franco é a protagonista do solo “Eu & Ela – Vesperal com Chuva” Foto: Divulgação

A direção de Rômulo Rodrigues optou pelo teatro filmado, lançando mão de recursos de edição discretos. Ponto alto para a construção versátil do palco, que compõe a narrativa por meio do jogo de luz (Djalma Amaral), agregando dinamicidade ao monólogo.

A chuva pode ser metafórica, remetendo às lágrimas e dores da senhora ou ainda à limpeza cênica de sua memória. A nostalgia é um fio condutor por onde nos são apresentados sonhos, vizinhos, amigos, família e sentimentos profundos como a solidão e o amor.

“Ela & Eu: Vesperal com Chuva” é um espetáculo para quem gosta de refletir sobre as emoções humanas e seus dramas cotidianos de forma leve e descontraída. Está disponível online no Youtube do Sesc Rio e é uma ótima pedida para uma tarde chuvosa.


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