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‘A cor púrpura, O musical’ é bom entretenimento e emociona, mas tem derrapadas

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Eu sou uma ávida leitora de Alice Walker e foi com muita animação que assisti a “A Cor Púrpura, O musical”, baseado na obra da autora. De imediato, surge o desafio de se fazer um novo produto, agora teatral, para um material já visto em formato de livro e filme. Bem sucedida, a montagem é luxuosa. E, semioticamente, imprime uma narrativa de riqueza às produções negras, algo ainda raro na cena contemporânea, principalmente, por conta do racismo estrutural e pela falta de patrocínio. Assim, foi com muito gosto que vi o Teatro Riachuelo cheio. Muitos jovens. Grupos de professores. Idosos. É uma alegria a retomada do teatro em nossa cidade.

Na montagem, o cenário (Natália Lana) é flexível e didático, junto ao jogo de luz (Rogério Wiltgen) em tons púrpuras, que trazem poeticidade às cenas mais dramáticas. Bonito de ver! E os figurinos (Ney Madeira e Dani Vidal) são bem pesquisados, nos localizando no sul dos Estados Unidos no início do século XX.

Há uma excelência musical da obra (Tony Lucchesi) que passeia pelo soul, spirituals e blues, com nítida referência dos corais gospels afro-americanos. Quero destacar as performances das majestosas Flávia Santana, como Shug Avery, e Letícia Soares, como a protagonista Celie, além do coro Darlene (Claudia Noemi), Doris (Hannah Lima) e Jarene (Suzana Santana), que nos remetem às nossas tias velhas, matriarcas de qualquer família negra. A simpatia por elas é imediata.

Deve-se, contudo, atentar sobre a construção dramática do texto. Por vezes, me pareceu uma leitura apressada que não quis se aprofundar nas arestas críticas das entrelinhas. A ausência de ironia (presente no texto original!) na relação entre Celie, Deus, a igreja e o patriarcado, por exemplo, me deu a impressão de estar num culto evangélico no Brasil. E o Poder da Palavra (caro às filosofias africanas e afro-diaspóricas) foi ignorado na cena do praguejamento de Celie. Já a cena de Anette na África foi caricata, e o Wakanda falado no final me pareceu uma escolha clichê da direção de Tadeu Aguiar. Afinal, para qual público a peça acenava neste momento?

O musical fica em cartaz no Teatro Riachuelo Rio somente até o próximo dia 20 Foto: Rafael Nogueira/Divulgação

“A Cor Púrpura” é uma história de grandes mulheres, porém duas personagens masculinas precisam ser discutidas: Albert (Mister), de Wladimir Pinheiro, que tem uma virada inverossímil no segundo ato; e seu filho Harpo, de Alan Rocha, impecável na atuação, que me pareceu uma homenagem a Grande Otelo. Meu letramento racial, no entanto, me faz questionar o porquê de justamente o homem mais retinto do espetáculo ser utilizado majoritariamente como alívio cômico das cenas.

No todo, o musical é um bom entretenimento. Nos emociona. E é uma oportunidade de apresentar a história clássica da literatura para o público carioca. Mas corra! Eles estão em cartaz somente até o próximo final de semana.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

SERVIÇO

Local: Teatro Riachuelo | Endereço: Rua do Passeio, 38 – Centro. | Sessões: Quintas e sextas às 20h ; sábados às 16h e às 20h30; domingos às 18h | Temporada: 20/01 a 20/02 | Elenco: Letícia Soares, Wladimir Pinheiro, Flávia Santana, Jorge Maia, Alan Rocha, Ester Freitas, Erika Affonso, Analu Pimenta, Suzana Santana, Cláudia Noemi, Hannah Lima, Caio Giovani, Renato Caetano, Thór Jr, Gabriel Vicente, Leandro Vieira, Nadjane Rocha. | Direção: Tadeu Aguiar | Texto: Artur Xexéo | Classificação: 12 anos | Entrada: Plateia Vip R$170 (inteira); R$ 85 (meia) / plateia R$130 (inteira); R$ 65 (meia) / balcão nobre R$90 (inteira); R$ 45 (meia) / balcão superior R$50 (inteira); R$ 25 (meia) | Bilheteria: Pelo site Sympla, pelo totem que se encontra no teatro e pela bilheteria que funciona de terça à sábado de 12h às 20h e domingo de 12h às 19h. | Gênero: Musical | Duração: 180 minutos | Capacidade: 999 lugares


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