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‘Favela Rouge +10’ entrega um bom teatro documental reflexivo

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Dentre as Filosofias Africanas, existe uma chamada Sankofa. Originária do povo Akan, é simbolizada por um pássaro que gira para trás com uma pedra na boca, cujo adágio diz: “Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi” (Nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás). Este pensamento filosófico nos faz recuperar o passado e com ele pensar o hoje e o amanhã, tal como o espetáculo “Favela Rouge +10”, que, como Sankofa, vai à montagem “Favela Rouge” de 2010 e à discussão sobre a pacificação das favelas no Rio de Janeiro para nos mostrar, a partir do distanciamento do tempo, o projeto falido que já ali anunciavam.

Também chama a atenção o fato de boa parte dos integrantes que participaram na década passada, majoritariamente jovens moradores da Vila Cruzeiro e adjacências, terem abandonado o mundo da arte devido à falta de perspectiva e precariedade que vivem os artistas negros e favelados neste país.

Os remanescentes, artivistas por excelência, nos entregam um teatro documental reflexivo,  que usa as arestas cortantes da ironia para lançar um olhar agudo sobre o Estado da Maafa. Isto é, a práxis de desumanização vertical que a população negra é submetida em nossa sociedade.

A peça é costurada na quebra constante da quarta parede e, aos poucos, envolve o público nos dramas existenciais de cada personagem, num diálogo que nos convida a olhar nossas próprias vidas e nos localizarmos diante do narrado. A escolha por um setlist afrocentrado com citações de intelectuais como Leda Maria Martins e Jota Mombaça dão o tom.

O elenco de “Favela Rouge + 10” sofreu alterações em relação à primeira montagem, de 10 anos atrás Foto: Rodrigo Menezes/Divulgação

A obra é afroperspectivada e passeia, pedagogicamente, pela história do funk carioca, dos bailes charmes, dos rastafaris da Etiópia, além de usar as simbologias do candomblé e umbanda no movimento corporal. A escrevivência, no caso, é uma escolha dramatúrgica, misturando as experiências dos atores com signos da negritude e periferias.

Vale ressaltar a beleza da obra, que com uma estética simples, street e contemporânea, emociona. Como, por exemplo na lírica cena dos dreads. E se “a favela é uma língua”, a obra nos lembra para não esquecermos. E, ao fim, saímos com a verdade tatuada no Ser: o “Amor faz um pacto com a nossa humanidade”.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

SERVIÇO

Local: Teatro Arthur Azevedo | Endereço: Rua Vítor Alves, 454 – Campo Grande. | Sessões: Quinta a domingo às 20h | Temporada: 14/04 a 17/04 | Elenco: Diogo Nascimento, Eliel Morais, Fabiano Dadado de Freitas, Igor Santos, Lívia Laso, Mauricio Lima, Nanda Féllyx, Renata Araújo e Roni Lopes | Direção: Fabiano Dadado de Freitas | Texto: Fabiano Dadado de Freitas | Classificação: 14 anos | Entrada: R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia/idosos, estudantes, classe artística e professores); Gratuidade (cortesia para grupos previamente agendados de ONGs, projetos sociais e escolas de teatro) | Bilheteria: Não informada | Gênero: Peça musicada | Duração: 50 minutos | Capacidade: Não informada


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