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‘Anjo Negro’, de Nelson Rodrigues, pode soar cansativo, mas é boa pedida ao tratar de racismo e suas faces

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Estreou na Internet o último sábado (31), a tragédia de Nelson Rodrigues “Anjo Negro”, com idealização e direção de Antônio Quinet, e Deo Garcez protagonizando Ismael. Em diálogo com o clássico grego “Medeia”, a tragédia rodrigueana é ambientada no Rio de Janeiro e conta a história de Ismael, Virgínia (Joana Lima Silva) e Elias (Lucas Gouvêa), suas vinganças, vilanias e violências tangenciadas pelo racismo. A versão online incorporou a plataforma no seu labor estético trazendo uma nova experiência para o público que estabelece um pacto de verossimilhança com o narrado.

Na montagem virtual, em homenagem aos 40 anos da morte do autor, temos uma peça-série-metragem, que mistura teatro online ao vivo, imagens gravadas e a divisão em série segundo os atos. Desta forma, está em cartaz o Ato 1 – “A maldição”-, ainda em novembro, estreia o Ato 2 e em dezembro, o Ato 3. Achei muito interessante a proposta, pois “Anjo Negro” é muito denso e pode ser difícil acompanhar uma apresentação com mais de uma hora e meia.

Esse é outro ponto importante, pois as limitações da plataforma atrapalharam a experiência, já que depende de fatores externos como a conexão da internet e, de certa maneira, foi cansativo acompanhar. Corrigidas as falhas, é certo que temos mais uma oportunidade de acessar um texto referência do teatro brasileiro, não apenas pelo peso de seu dramaturgo, mas, sobretudo, pela discussão sobre o racismo e suas faces: do auto-ódio ao racismo estrutural, a sombria tragédia aborda o atual, colocando em cena o inconsciente com seus paradoxos, paixões e crimes.

Deo Garcez e Joana Lima Silva interpretam o casal Ismael e Virgínia Fotos: Mônica Machado;Divulgação

A trilha sonora também agrega muito! A escolha do blues reforçou o cariz de tragédia. O hibridismo de linguagens e a temática necessária faz do espetáculo uma boa pedida, mas lembrando que Nelson Rodrigues exige estômago forte.

Vale pontuar que a obra escrita em 1946, foi feita pensando em Abdias Nascimento como Ismael, entretanto a censura e o racismo brasileiro impediram-no de protagonizar. Assim o espetáculo estreou em 1948 no Teatro Fênix/RJ com a Companhia Maria Della Costa tendo atores brancos fazendo blackface no palco. Orlando Guy interpretou o personagem principal.

“Anjo Negro” está em cartaz às sextas e sábado pelo Sympla.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

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