Em cartaz no Teatro Prudential, no prédio da antiga TV Manchete, “Brilha la Luna” conta a história de uma menina que sai de uma comunidade hippie para se aventurar na cidade grande. Com músicas do grupo Rouge e duas horas de espetáculo, o infantil deixa sua marca pelo fôlego de desafiar limites.
O texto é, certamente, o elemento mais espinhoso de se analisar. Com uma duração de aproximadamente duas horas, algo assustador até para padrões adultos, quiçá infantis, dá para imaginar o volume do enredo. De fato, a dramaturgia não só construiu histórias completas (com começo, meio, fim e reviravoltas) das cinco protagonistas (as cinco cantoras que participam do concurso musical que permeia a peça), mas também de quatro personagens secundários (o “crush” da protagonista, seu melhor amigo, a apresentadora e o assistente). Paralelamente, existe o conflito central, que envolve o programa de tv e todos os personagens, que também não é deixado de lado.
Em suma, uma epopeia! Que chama a atenção pela coragem com que foi elaborada, transposta para o palco (a direção entra aí), pelo esmero com cada um dos personagens, a comicidade onipresente e de assimilação fácil, enfim, uma miríade de elogios que não são de pouca monta.
Toda essa estrutura tem um custo: a peça “tem uma barriga” grande, que é bem preenchida pelas viradas nas tramas e pela qualidade do elenco, mas, ainda assim, o sentimento que a história não tem muito mais para onde desembocar fica no ar. Talvez por isso, acaba caindo em certos clichês (que a própria peça ironiza no início) e ganhando ares de novela mexicana.
Os atores, estes responsáveis por dar vida a tudo, realizam o impossível: afinados entre si, deixam a peça coesa e ainda imprimem carisma e virtuosismo. Mais importante: quebram subitamente o andamento em tiradas cômicas certeiras, e retomam-no logo em seguida, mantendo a dinâmica. Bonito de ver!
O cenário é de escala monumental, o que lentifica algumas transições, mas causa um efeito interessante ao criar uma desproporção entre o programa e as vidas dos nove personagens, especialmente Luna.
O figurino faz um excelente trabalho ao fixar tipos, o que contribui muito para a narrativa e (e especialmente, eu diria) para a comicidade ligeira.
Um abraço e até domingo que vem!
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