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‘E a nave vai’: quem nunca se deixou levar pelas afecções do afeto?

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

O teatro é um instrumento de representação das experiências humanas e, neste sentido, a cineperformance “E a nave vai”, da Cia. Teatro Inominável, traz um olhar atento para a construção amorosa entre dois homens que se encontram num aplicativo de relacionamento e começam a se aproximar e a se envolver. Testemunhamos, portanto, os passos desta empreitada afetiva, refletindo sobre o que nos leva a querer estar com o outro. Essa seria a reverberação da experiência humana retratada no espetáculo em nós. Afinal, como se dá o jogo da sedução? O que faz nos atrairmos uns pelos outros? Existe causalidade no amor?

Textualmente, é uma obra sobre afetos a partir do pensamento do filósofo Baruch Spinoza. Uma construção interessante do dramaturgo e diretor Diogo Liberano e da dramaturgista Thaís Barros, que, por vezes, parece tratar-se de citações diretas do intelectual holandês. Havia muitos anos que não voltava ao grande nome da filosofia moderna e racional. Foi bom revisitar a teoria dos afetos a partir da linguagem cênica.

Ver as personagens se despindo em sentimentos, expondo camadas de suas vidas, causa conexão entre público-história por meio das dimensões humanas, pois quem nunca se deixou levar pelas afecções do afeto? A própria palavra afeto deriva do verbo afetar, que segundo o pensador, é tudo aquilo que interage e movimenta o Ser e suas éticas, não sendo necessariamente positivo ou negativo, mas impulsionador. Por isso é interessante observar os motivos que conduzem cada personagem em busca no outro: o Gatão (Márcio Machado), mais velho, querendo se afastar do passado se atrai pela mocidade do mais jovem. E este, Mocinho (Gunnar Borges), querendo não pensar no futuro, se atrai na maturidade do mais velho. E ambos vão desvelando suas subjetividades prenunciadas nas próprias alcunhas.

Nave (Andrêas Gato), o carro de Gatão, é a terceira personagem da trama e quem nomeia o filme, servindo como metáfora daquela que tanto conduz fisicamente Gatão e Mocinho nos seus encontros, mas, sobretudo, aquela que agrega questionamentos metafísicos e imanentes. Como uma espécie de alter-ego spinoziano do casal, o carro tensiona as relações e expõe sutilezas do apaixonamento e suas pulsões.

Gunnar Borges (E) e Márcio Machado vivem os personagens que se apaixonam Foto: Felipe Quintelas/Diulgação

Enquanto cineteatro, a obra explora a linguagem integrando cenas externas e ângulos que nos deslocam da formalidade do palco italiano. A escolha pelo sombrio e a meia luz dá o tom de insegurança que emerge das discussões do casal, auxiliando nas digressões filosóficas, principalmente as da própria Nave.

Gosto das perturbações do apaixonamento e da pressa desejosa de estar junto que nos toma como um rompante. A respeito disto, Spinoza aponta o descontrole sobre os afetos. Embora não concorde totalmente com sua teoria, acho interessante a maneira como a peça incorpora a discussão sobre a pressa e o tempo. Existe tempo para se apaixonar? Existe paixão saudável? Os afetos devem ser domados? São muitas perguntas… Divirtam-se.

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

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