RIO – No último dia 02, um pai de família, morador de São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, chegava em casa quando foi atingido por três tiros, a princípio, sem qualquer explicação. Pouco depois, o atirador, um homem branco, alegou que alvejou sua vítima, um homem negro, por acreditar que viria a ser assaltado. O assassinato logo ganhou ampla repercussão, não só pela covardia, mas pela evidente motivação racista. Quase que simultaneamente, um outro caso, este na capital fluminense, foi visto por boa parte da sociedade e da mídia também como crime causado pelo mesmo tipo de preconceito: o brutal espancamento do refugiado congolês Moïse Kabagambe – que chegara ao Brasil havia 10 anos – porque ele cobrava diárias por ter trabalhado num quiosque na orla da Barra da Tijuca.
Os dois casos chocantes e revoltantes fizeram aumentar as discussões sobre racismo em diversos âmbitos – seja em redes sociais, em casa com familiares, conversas entre amigos… E o teatro, que sempre foi espaço para debates sobre temas sensíveis à sociedade, não está deixando de contribuir para fomentar tal discussão.
Atualmente, há pelo menos três espetáculos em cartaz nos principais teatros do Rio que, de alguma forma, passam pelo racismo e exaltam personagens pretos – confira os serviços completos de cada peça no fim da página.
Neste sábado (12), o infantil “Nuang – Caminhos da liberdade” volta de uma temporada em Angola para reestrear no recém-inaugurado Teatro Ruth de Souza, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa. A partir da história de uma menina africana que sofre com racismo junto ao seu povo, a peça trata de ancestralidade, cultura, educação, identidade, liberdade e pertencimento.
Além disso, o espetáculo – que apresenta uma estética africana e afro-brasileira com máscaras, musicalidade e narrativas – também aborda a importância do combate ao racismo e à intolerância religiosa.
— Viver esse espetáculo significa dizer para as crianças de hoje, nossos ancestrais de amanhã, tudo aquilo que eu queria ter reconhecido quando criança. Mas ninguém tinha como me contar, porque os nossos mais velhos tinham sido ensinados a esquecer também — conta a atriz, diretora e dramaturga Tatiana Henrique, que adaptou o texto do livro original de Janine Rodrigues.
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Já no Teatro Riachuelo, está em reta final de temporada o premiadíssimo “A cor púrpura – O Musical”, que trata não só de racismo, mas também de outras questões de interesse geral da sociedade. Mas o sucesso, diga-se, não começou aqui, pois vem das versões antecedentes da história da protagonista Celie.
A original é o clássico literário lançado em 1982 por Alice Walker, a primeira escritora negra a ganhar o Prêmio Pulitizer. Já em 1985, o livro rendeu um filme, com direção de Steven Spielberg e Oprah Winfrey e Whoopi Goldberg no elenco, que recebeu 11 indicações ao Oscar.
Em seguida, a obra virou um musical da Broadway, que estreou no início dos anos 2000, ganhando o Prêmio Tony (o mais respeitado do teatro nos Estados Unidos). Já no Brasil, a versão de Artur Xexéo (1951-2021), que tem direção de Tadeu Aguiar, recebeu ao todo 75 prêmios e 87 indicações . Só no Rio, entre as principais premiações (Aptr, Shell e Cesgranrio), foram 21 indicações e nove estatuetas – incluindo a de melhor espetáculo no Prêmio Aptr.
Sobre a história – que é costurada por 32 números musicais – Celie é entregue pelo suposto pai a um fazendeiro local, para quem deverá trabalhar sem remuneração. Entre conflitos e laços com outros personagens, ela vê sua trajetória ser pontuada por questões sociais que avançam pelo tempo como, por exemplo, desigualdade, abuso de poder, machismo, sexismo e violência contra a mulher – além, claro, do racismo.
Por fim, “Ícaro and the black stars”, em cartaz (também em fim de temporada) no Teatro Claro Rio, é um show de exaltação à black music. Fruto de uma paixão do autor Pedro Brício – que também assina a direção – o espetáculo tem como protagonista Ícaro Silva, que acompanhado das atrizes/cantoras Cássia Raquel e Hananza, canta sucessos de músicos como Michael Jackson, Bob Marley, Tim Maia, Wilson Simonal, Beyoncé e James Brown, além de contar passagens das trajetórias deles.
— Após ver a apresentação dele no Show dos Famosos, no Faustão, fiquei pensando que era preciso fazer algo onde ele pudesse colocar em cena essa versatilidade que Ícaro tem como cantor, ator, cômico e dramático. A base do espetáculo é essa beleza, riqueza, variedade da black music dançante do último século — explica Pedro Brício.
SERVIÇO
“Nuang – Caminhos da liberdade”
Local: Parque das Ruinas – Teatro Ruth de Souza | Endereço: Rua Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa. | Sessões: Sábados e domingos às 11h | Temporada: 12/02 a 20/02 | Elenco: Hebert Said, João Pedro Zabeti, Junior Melo, Samara Costa e Tatiana Henrique | Direção: Tatiana Henrique | Texto: Tatiana Henrique (a partir do livro original de Janine Rodrigues) | Classificação: Livre | Entrada: R$ 10 (inteira); R$ 5 (meia) | Bilheteria: Não informada | Gênero: Infantil | Duração: 50 minutos | Capacidade: Não informada
“A cor púrpura – O musical”
Local: Teatro Riachuelo | Endereço: Rua do Passeio, 38 – Centro. | Sessões: Quintas e sextas às 20h ; sábados às 16h e às 20h30; domingos às 18h | Temporada: 20/01 a 20/02 | Elenco: Letícia Soares, Wladimir Pinheiro, Flávia Santana, Jorge Maia, Alan Rocha, Ester Freitas, Erika Affonso, Analu Pimenta, Suzana Santana, Cláudia Noemi, Hannah Lima, Caio Giovani, Renato Caetano, Thór Jr, Gabriel Vicente, Leandro Vieira, Nadjane Rocha | Direção: Tadeu Aguiar | Texto: Artur Xexéo | Classificação: 12 anos | Entrada: Plateia Vip R$170 (inteira); R$ 85 (meia) / plateia R$130 (inteira); R$ 65 (meia) / balcão nobre R$90 (inteira); R$ 45 (meia) / balcão superior R$50 (inteira); R$ 25 (meia) | Bilheteria: Pelo site Sympla, pelo totem que se encontra no teatro e pela bilheteria que funciona de terça à sábado de 12h às 20h e domingo de 12h às 19h | Gênero: Musical | Duração: 180 minutos | Capacidade: 999 lugares
“Icaro and the black stars”
Local: Teatro Claro Rio | Endereço: Rua Siqueira Campos, 143 – Copacabana. | Sessões: Sábado às 20h; domingo às 19h | Temporada: 22/01 a 20/02 | Elenco: Ícaro Silva, Luci Salutes e Hananza | Classificação: 12 anos | Entrada: R$ 80 (inteira); R$ 40 (meia) | Bilheteria: Todos os dias das 10h às 22h ou Sympla | Gênero: Show | Duração: 100 minutos | Capacidade: 659 lugares
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