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Espetáculo sobre violência contra mulheres estreia, e atriz torce por profundo impacto no público: ‘Que saia tomado por desejo de mudança’

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos
A atriz Rita Grego, como a noiva cadáver, entre Eduardo Ibraim (D) e César Valentim Foto: Mariana Quintão/Divulgação

RIO – Em pouco mais de um mês, o noticiário policial fluminense foi tomado por casos de violência contra mulheres, com sete sendo assassinadas (a maioria pelos próprios companheiros) na capital e na Baixada, isso sem falar no estarrecedor e repugnante episódio do estuprador anestesista. Não coincidentemente – afinal, o teatro está sempre antenado ao que acontece na sociedade – o espetáculo “Rhupá, a fábula da noiva cadáver” estreia no Sesc Copacabana, na quinta-feira (21), ambicionando um profundo impacto no público sobre esta triste rotina de ataques.

— Esperamos que o público também se identifique, reflita, questione e saia do espetáculo remexido e tomado por um profundo desejo de mudança. Mudança de mentalidade, de práticas sociais preconceituosas que corroboram para que o Brasil esteja em quinto lugar no ranking de homicídios de mulheres, por exemplo — lamenta Rita Grego, protagonista da peça, em entrevista ao RIO ENCENA.

Com direção de Alexandra Arakawa e texto de César Valentim – que divide a cena com Rita e Eduardo Ibrahim – “Rhupá” recorre a uma violência histórica, que nasceu na Europa e chegou até o Brasil, e a uma fábula judaica – a mesma que inspirou o filme “A noiva cadáver” (2005), de Tim Burton.

Na Europa Inquisitória em séculos passados, marranos e judeus eram obrigados a se converter ao catolicismo, sendo chamados de “cristãos novos”. Entre as vítimas, podiam estar mulheres às vésperas do casório, como mostra o espetáculo, cuja personagem central é uma noiva morta de maneira violenta, vítima de um crime cometido momentos antes de subir ao altar. Assim, é traçado um paralelo entre essa perseguição histórica e o machismo e o patriarcado atuais, que culminam em feminicídios e outros crimes brutais contra mulheres.

Interpretada por Rita, a noiva cadáver está presa e enraizada em suas histórias e tradições, mas tem uma virada séculos depois, quando um noivo casa-se “por acidente” com ela, trazendo-a de volta ao “mundo dos vivos”.

Na entrevista abaixo, Rita fala sobre essas mudanças da personagem, explica que o texto não menciona um caso de violência específico atual e opina sobre a reação da sociedade diante do caso do estuprador anestesista. Confira:

A informação desse crime histórico de perseguição a mulheres judias, que existiu inclusive no Brasil, vai surpreender muita gente na plateia? A que fator você atribuiria esse “desconhecimento”?
Acho que irá surpreender a muitas pessoas! Quando falamos em antissemitismo, automaticamente, correlacionamos com o Holocausto provocado pelo regime nazista, que, por ser historicamente mais recente, é mais debatido e conhecido. Afinal, estamos falando da Segunda Guerra Mundial, século XX. Fora que é um tema recorrente em filmes, livros. Quem nunca ouviu falar em Anne Frank, por exemplo? O nosso espetáculo traz a informação de uma prática – o assassinato de noivas judias a caminho do casamento – que ocorria na Europa Inquisitória, época em que os judeus também foram perseguidos e tinham duas opções: morrer ou se converter ao catolicismo. Não costumamos relacionar a Inquisição ao antissemitismo, por isso acredito que boa parte da plateia ficará surpresa com este dado histórico que apontamos na peça.

Depois de ser morta de forma brutal antes de subir ao altar, a noiva cadáver retorna ao “mundo dos vivos” ao se casar “por acidente” com um noivo

E de que maneira a peça aborda o tema violência contra a mulher? Que tipo de reação ou sentimento pode despertar no público?
Nosso espetáculo explora a linguagem do teatro do absurdo. Logo, a abordagem do tema relacionado à violência contra mulher, a nocividade de vivermos em uma sociedade machista e patriarcal, se dá através dos questionamentos, reflexões e críticas que as personagens, especialmente a Noiva, trazem nos diálogos. Esperamos que o público também se identifique, reflita, questione e saia do espetáculo remexido e tomado por um profundo desejo de mudança. Mudança de mentalidade, de práticas sociais preconceituosas que corroboram para que o Brasil esteja em quinto lugar no ranking de homicídios de mulheres, por exemplo!

Entre ser assassinada e voltar ao mundo dos vivos, a protagonista demonstra alguma grande virada de atitude? Ou sua postura é linear?
Se falar muito, posso dar spoiler. Mas desde o primeiro momento de retomada, percebemos o quanto a personagem volta ao mundo dos vivos empoderada, questionadora e , depois de séculos e séculos, sabendo exatamente o que deseja!

No paralelo que o texto traça com crimes atuais, vocês mencionam algum caso específico?
Não mencionamos claramente, mas a plateia certamente fará suas inferências.

Como você viu a sociedade reagir ao caso de estupro cometido pelo anestesista? Acha que estamos evoluindo quanto a isso ou ainda faltam mais ação e indignação?
Eu vejo a revolta, repulsa e indignação mais pujante e latente por parte de pessoas que já são engajadas na causa feminista. Não só neste caso do estuprador anestesista, mas em outros de igual crueldade que vivemos recentemente. Quando ainda tentam relativizar o estupro e gravidez de uma criança de dez anos, quando tentam relativizar o estupro de uma grávida em trabalho de parto, e quando isto é feito por mulheres, como a promotora do caso da criança, ou da estudante de medicina que fez chacota do caso do médico estuprador, eu percebo que temos muita luta pela frente. E que essa luta está diretamente relacionada a educação e arte, pois são as principais ferramentas para fomentar a reflexão e a informação.

SERVIÇO

Local: Sesc Copacabana – Sala Multiuso | Endereço: R. Domingos Ferreira, 160 – Copacabana. | Sessões: Quinta a domingo às 18h – sessões extras dias 30/07, 31/07, 06/08 e 07/08 (sábados e domingos) às 16h | Temporada: 21/07 a 07/08 | Elenco: Rita Grego, Eduardo Ibraim e César Valentim | Direção: Alexandra Arakawa | Texto: Cesar Valentim | Classificação: 14 anos | Entrada: Não informada | Bilheteria: Não informada | Gênero: Fábula | Duração: Não informada | Capacidade: 36 lugares


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