Eu estava sentindo muita falta de assistir a um espetáculo infantil, não apenas por causa da minha filha, mas sobretudo, pela minha criança interior. Toda esta precariedade, incertezas sobre vacinas e desgoverno causou em mim uma necessidade de catarse que o teatro infantil muitas vezes consegue proporcionar. Foi, então, que decidi assistir, no último fim de semana, ao espetáculo “Os Coloridos”, da Cia Os Crespos, que estreou no YouTube do Sesc São Paulo, no formato #sescemcasa (assista aqui).
A partir de histórias africanas, afro-brasileiras e indígenas, num texto da poderosa Cidinha Silva, duas araras, azul e amarela, disputam entre si para ver quem é a melhor dando início a um entrave cultural e de valores. Muito interessante esta camada de discussão que leva à reflexão sobre intolerância, racismo, dominação e respeito, temática urgente a ser palatalizada na linguagem infantil. Gostei da arara vermelha como apaziguadora do conflito e da forma inspiradora que se dissolveu o dilema trazendo a beleza das cores, ao mesmo passo promovendo a diversidade.
A escolha por uma apresentação gravada no palco italiano ao invés do uso de plataformas online foi positiva. E ainda deu pra suspirar de saudades do teatro presencial. Com um elenco formado por atores negros, a cia paulista Os Crespos chega aos seus 15 anos sendo referência nas discussões sobre poética e subjetividade negra no teatro, e “Os Coloridos” traz a pauta de forma bem humorada, lírica e pedagógica. Lucélia Sergio assina a direção, além de atuar ao lado de Joyce Barbosa e Raphael Garcia. As intervenções musicais ficaram por conta da talentosa dupla Nunah Oliveira e Ramon Zago.
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