Está em cartaz até dia 21 de março o espetáculo “O Jogo”, versão brasileira do premiado texto da venezuelana Mariela Romero, dirigido por Rafaela Amado. Nele, encontramos uma história de dependência, violência e submissão feminina em um diálogo crítico ao imaginário da fábula.
Duas mulheres, interpretadas por Geovana Metzger e Milah Coutinho, disputam entre si, enquanto esperam por um homem misterioso. Esse é o mote para a discussão do lugar da mulher na sociedade patriarcal a partir da metáfora deste homem, cuja ausência se presentifica na relação de dependência das personagens. Entrecorta-se, ainda, uma narrativa fabulesca numa crítica à romantização da mulher e do amor.
O nome da peça expressa as várias camadas do jogo: o cênico, o das mulheres, o da guerra e o do poder. E o cenário de Felipe Alencar traz a ideia de teia e entrelaçamento, uma imagem que condensa o texto.
A crueldade do jogo entre as personagens é muito interessante, pois aponta para a relação de dominação e quebra com a narrativa única da fragilidade feminina. Nesse sentido, os abusos estão para a natureza humana e as relações de poder entre as duas mulheres expõe a desumanização.
“O Jogo” é uma obra profunda e atual, mas eu esperava alguma inovação para o formato online e não apenas a exibição do espetáculo pré-gravado. Principalmente por ter sido contemplado com a Lei Aldir Blanc, me pareceu preguiçosa a exibição seguida por um bate-papo. Num momento em que o teatro se torna híbrido e traz uma série de desafios, fica o desejo de poder ver uma montagem que aproveite a contemporaneidade do texto unindo-o às novas possibilidades do teatro online.
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