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Para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, minha homenagem a três grandes autoras negras

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34 anos, doutora em Literaturas Africanas, pós-doutora em Filosofia Africana, pesquisadora, professora, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber.
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

Desde 1992 comemora-se, no 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e, a partir de 2014 no Brasil, a data passou a figurar como Dia da Mulher Negra, tendo Tereza de Benguela como símbolo. Homenageia-se, portanto, o protagonismo feminino negro e sua resistência diante de um processo histórico fundador do continente americano com base no genocídio dos povos originários e a desumanização da população negra sequestrada para a escravidão neste território.

Tereza de Benguela é o arquétipo da resistência de mulheres negras que, apesar do cenário desumanizador, persistem afrontando os sistemas ao recusar o lugar de subalternidade para si e para os seus. Tereza era uma líder do quilombo do Quariterê/do Piolho – no atual estado do Mato Grosso – e viveu na segunda metade do século XVIII.

Após a morte do chefe do quilombo e seu companheiro José Piolho, assumiu o comando durante duas décadas ao lado de outros negros e indígenas. Uma mulher poderosa, inteligente, que entendia o quilombo como uma organização econômico-político-militar e que, inclusive, comercializava tecidos feitos com o algodão plantado no próprio quilombo – o que possibilitou também a compra de armamento para defesa do território. Tereza de Benguela figura entre as ancestrais que ainda não foi devidamente contempladas com o olhar Político-Poético das Artes.

E contagiada pela efeméride da semana, achei importante usar essas linhas para celebrar três dramaturgas negras relevantes da contemporaneidade. Mulheres afro-brasileiras que lutam com as armas do fazer artístico emancipador de consciências.

A primeira é a mineira Grace Passô, atriz, diretora, curadora, cronista e dramaturga. Meu encontro com ela se deu em 2016 com o espetacular “Vaga Carne”, assinado e protagonizado por Grace. Premiadíssima (Shell e Aptr 2016 e Prêmio Leda Maria Martins em 2017, entre muitos outros), a obra foi transformada em média-metragem, também dirigido por ela, e é possível assistir online.

O espetáculo chega à Internet após realizar três temporadas em teatros do Rio Foto: Marta Starosta/Divulgação
O espetáculo chega à Internet após realizar três temporadas em teatros do Rio Foto: Eduardo St. Clair/Divulgação
O espetáculo chega à Internet após realizar três temporadas em teatros do Rio Foto: Thiago Sacramento/Divulgação

A segunda é Cristiane Sobral que conheci na FLIP (Festa Literária de Paraty) de 2017. Na ocasião, lançava seu livro de poesia “Terra Negra”, pela Editora Malê e nós duas fazíamos parte do catálogo “Intelectuais Negras”, organizado pela professora da UFRJ e Doutora Geovana Xavier, que também estava sendo lançado na feira. No fim da bela noite, Crisitane precisava retornar ao Rio de Janeiro para pegar o voo para Brasília na manhã seguinte, mas, por uma questão de logística, não tinha onde passar a noite. E foi assim que ela veio pernoitar na minha casa e nós duas passamos a madrugada conversando. Não sei se ela se lembra disso, mas aquela noite foi muito impactante, porque pude ouvir de perto os percursos de sua construção estética. Êta sorte!

Eu já conhecia suas obras literárias como “Não vou lavar os pratos” e, a partir deste encontro, comecei a explorar sua dramaturgia também, com textos teatrais como “Esperando Zumbi”. Cristiane Sobral é uma referência, não apenas pela escrita e performances, mas também pelo lugar histórico que tem por ter sido a primeira atriz negra graduada em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília.

A terceira e última é a mais afetiva, porque além de uma amiga querida, é uma companheira de trabalho, tanto na coordenação do Núcleo de Estudos Geracionais sobre Raça, Arte, Religião e História (LHER/UFRJ), quanto nas parcerias do projeto Segunda Black e Grupo Emú. Estou falando da atriz, produtora, pesquisadora, diretora e dramaturga Sol Miranda. Sol é potência pura – como seu próprio nome já expressa – e, ainda por cima, completa 30 primaveras no próprio 25 de julho! O espetáculo “Mercedes”, assinado e protagonizado por Sol, é esteticamente primoroso e utiliza do Poder Semiótico da Arte para contar a história de Mercedes Batista, que foi a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Inspiração pura!

E assim, nesse clima de afeto e potência, saúdo a todas as mulheres negras na América. Senhoras da AFROnta. Mulheres que como eu, matrigestam potências e mantêm a continuidade do legado afro-civilizatório. Celebremos!

Dúvidas, críticas ou sugestões, envie para aza.njeri@rioencena.com.

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