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Paulo Gustavo fala sobre ‘Online’ e sua relação com a Internet: ‘Fico direto, mas é preciso desconectar às vezes’

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Tempo estimado de leitura: 5 minutos
O espetáculo mistura dramaturgia, stand-up, musical e efeitos visuais
O espetáculo mistura dramaturgia, stand-up, musical e efeitos visuais

Hoje em dia, é mais do que natural que as pessoas passem horas com os olhos vidrados nas pequenas telas de celulares, tablets e notebooks. Seja para jogar, usar aplicativos de mensagens, passear pelas redes sociais ou até mesmo para ler e se informar do que está acontecendo ao redor. Inclusive, o que está rolando no teatro, onde está em cartaz uma peça que aborda exatamente essa realidade contemporânea. Em temporada no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, “Online” é uma provocação bem humorada e também uma compreensão à necessidade, seja por profissão, diversão ou pura falta de noção, que as pessoas têm de estar conectadas quase 24h por dia à Internet, o que, reconheça-se, facilitou essa entrevista do protagonista, diretor e autor do espetáculo, Paulo Gustavo, que falou com RIO ENCENA via… Whatsapp.

– Tenho a preocupação de evitar pegar no celular numa festa, numa mesa de jantar . É um exercício diário. Mas eu trabalho no celular. Respondo email, troco mensagens no Whatsapp, tenho o grupo da produção, do teatro. Não é só diversão, é trabalho também – pondera o ator, que fica em cartaz até 19 de fevereiro do ano que vem.

Com traços de superprodução, “Online” reúne, em 80 minutos, dramaturgia – em parceria com Fil Braz -, stand up, musical, dança e efeitos visuais para falar da correria e do imediatismo dos tempos atuais. Para dar conta desse ritmo frenético, muitos recorrem à praticidade da conectividade. Em contrapartida, porém, é natural que passar tanto tempo de olho numa pequena tela tenha como consequência uma gafe ou outra. E com o multifacetado Paulo Gustavo – que além da peça, tem no Multishow os programas “Vai que Cola”, “220 Volts” e “Paulo Gustavo na Estrada” e ainda estreia no mês que vem o filme “Minha mãe é uma Peça 2” – não é diferente.

– Uma amiga minha me perguntou algo, e, distraído no telefone, eu não respondi. Ela, então, me mandou o que queria perguntar pelo Whatsapp, e eu respondi mais rápido. Eu estava do lado dela – recorda o ator, que na entrevista abaixo, fala muito mais do espetáculo e de sua relação com celulares e afins.

Como surgiu a ideia do espetáculo? Foi uma observação sua no dia a dia sobre a relação entre as pessoas e a tecnologia?
Surgiu, claro, da minha observação, porque sou um cara muito observador. Esse meu dia a dia corrido, que faço mil coisas ao mesmo tempo, sempre me inspira. Supermercado, padaria, análise, amigos… Tudo me inspira. E hoje em dia, é tudo muito corrido e isso inspira. Às vezes, a gente sai de casa para fazer alguma coisa e acaba não fazendo. Ou liga para alguém para contar uma coisa, sai abrindo um monte de parênteses e não fecha. Então, acho que a peça é isso. Chego ao teatro para fazer um espetáculo que não acontece, porque vão abrindo milhões de situações, eu vou passando de uma situação para outra, e a peça acaba sem que eu tenha conseguido iniciá-la. A brincadeira é essa. E junto com isso, a gente fala da era da Internet, da conectividade, desses vícios de fazer tudo pela Internet. É uma peça que tem a pretensão de ser moderna, atual, que as pessoas se identifiquem porque falamos do que estamos vivendo hoje. É um caminho sem volta. É difícil achar alguém que consegue se manter completamente desplugado de tudo.

O espetáculo fica em cartaz até 19/02 Fotos: Daniel Chiacos/Divulgação
O espetáculo fica em cartaz até 19/02 Fotos: Daniel Chiacos/Divulgação

Acha que essa relação tende a ficar cada vez mais perigosa ou vê como exageradas as críticas às pessoas que passam muito tempo diante de uma tela?
Bom, não fico muito de olho nas críticas. Acho que a Internet é legal, e não temos como virar a cara para isso. A gente é viciado, não tem como negar. Mas a Internet tem um lado positivo, em que a gente tem acesso a tudo muito rápido. Paga conta pela Internet, eu dou entrevista pela Internet…Por exemplo, aqui agora, estou te dando essa entrevista pelo Whatsapp. Então, a Internet abre milhões de possibilidades de comunicação, o que é super positivo. Mas tudo tem um limite. não se pode ficar o dia inteiro conectado, mergulhado nisso. A gente tem que viver a vida real, olhar para as pessoas. Senão, se perde aquele contato visual, o toque… Às vezes, vemos um casal num restaurante sem se falar, mexendo no celular sem parar. Então, acho importante manter essa relação de trocar ao vivo, conversar, bater papo, olhar no olho. No meu casamento – com o dermatologista, Thales Bretas, em 2015 – pedi que os amigos entrassem sem celular, justamente para curtirmos aquele momento, porque acho que com o aparelho, a gente se perde, quando vê, já passamos muitas horas ali. Tem dias que eu digo que vou dormir cedo, deito às 22h, pego o celular, começo a me entreter e quando vejo já são 03h30. Então, eu não queria que isso acontecesse no meu casamento. Por isso, pedi para evitarem celular. No início, eles ficaram: “Poxa! Entrar sem celular…”. Mas no fim, recebi mensagens de pessoas dizendo que curtiram, que conversaram com outros convidados que não viam há tempos. E acho que isso só ocorreu porque não tinha o celular. Acho que temos que estar atentos a isso.

E como é sua relação com os aparelhos eletrônicos? Tem uma preocupação de não ficar por muito tempo?
Tenho a preocupação de evitar pegar no celular numa festa, numa mesa de jantar . É um exercício diário. Mas eu trabalho no celular. Respondo email, troco mensagens no Whatsapp, tenho o grupo da produção, do teatro. Não é só diversão, é trabalho também. Claro que eu alimento minha rede social, que para mim é superimportante estar no Facebook, no Snapchat, no Instagram. Isso depois volta para mim como divulgação do meu trabalho, como carinho e agradecimento dos fãs. Então acabo ficando direto na Internet, mas tem que ter essa preocupação, esse exercício de se desconectar às vezes.

Já protagonizou alguma situação inusitada que envolvesse celular, tablet…?
Uma amiga minha me perguntou algo, e, distraído no telefone, eu não respondi. Ela, então, me mandou o que queria perguntar pelo Whatsapp, e eu respondi mais rápido. Eu estava do lado dela. Então, esse tipo de coisa acontece. Já saí de táxi e na hora de descer, não paguei. O cara me chamou para dizer que não havia pago. Pensei: ‘Gente, estou completamente louco”. Se ele não tivesse dito, eu não perceberia. Hoje em dia, tem essa coisa do aplicativo, e eu não ando muito de táxi. Ás vezes ando com algum amigo, a maioria anda de Uber, e o Uber paga pelo celular. E eu acostumei assim. Então, é esse tipo de coisa que a gente vai se adaptando com a Internet.

Além de fazer rir, o espetáculo tem alguma outra proposta? Reflexão, por exemplo?
Sim, o espetáculo faz rir, mas também faz refletir sobre uma série de coisas. Com esse mundo virtual, a gente tem que estar atento para não deixar o real de lado, as relações humanas, entre amigos, família… A gente não pode perder tudo isso e deixar tudo somente através da rede social. O espetáculo fala sobre nossos vícios, nossos exageros, a relação entre fã e artista… Porque existe essa coisa de estar sempre tendo que responder a todo mundo na Internet e correspondendo às expectativas das pessoas. E não é por aí, porque a gente não passa o dia todo na Internet. Então, a peça fala disso, é uma resposta. Fala da imprensa, de quem muda o que a gente fala na Internet. Alguém inventa algo a nosso respeito, essa coisa ganha uma proporção e depois vira uma verdade. A peça critica e faz refletir sobre isso. Que ao mesmo tempo em que a Internet tem um lado positivo, tem o negativo, de projetar coisas que não existem. Tem também as pessoas agressivas, que por trás de um perfil, dizem coisas que machucam. E é isso, o espetáculo alerta que por trás da máquina, temos nós, seres humanos.

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