Em cartaz no Teatro Candido Mendes, “As Cadeiras”, de Eugène Ionesco e direção de Ney Latorraca, narra a solidão e as divagações de um casal de idosos. O texto de Ionesco, como esperado, é ótimo e cheio de ironias, e o espetáculo traduz muito bem esta vitalidade, além das lacunas e incompletudes que o texto insinua.
Em Ionesco, assim como em boa parte do grupo de dramaturgos que passou a ser denominado “Teatro do Absurdo”, é delicado afirmar o que “é” e o que “não é” (mesmo porque essa flutuação é a grande joia dos textos), de modo que vou me limitar a descrever que um casal de idosos (interpretado por Tássia Camargo e Edi Botelho), em seu vazio existencial, decide preencher o espaço de convidados. Para tanto, se fazem necessárias cadeiras, que precisam ser constantemente providenciadas, ao mesmo tempo em que os dois anfitriões entretêm seus hóspedes, num jogo de diálogos cruzados.
A peça evolui neste malabarismo social, entre solidão e profusão, espaço vazio e espaço excessivamente ocupado, falta e excesso de cadeiras. O espetáculo expressa estas sensações com muita inteligência, mesmo com apenas uma dupla de cadeiras (o cenário é de Edi Botelho).
O figurino de Carol Lobato acompanha estas múltiplas interpretações, sobrepondo camadas de sentido em combinações neutras, casuais, sociais, até o brega.
Os atores Tássia Camargo e Edi Botelho, sob a direção de movimento de Regina Miranda, personificam a polifonia de Ionesco, até mais do que o “absurdo” de outros dramaturgos. Transitam entre estados emocionais que se justapõe, ecoam até tomarem uma forma pontual, que logo se transformará em outra coisa, mas nunca subitamente.
Uma boa pedida para conviver um pouco com a lógica “insólita” do dramaturgo romeno.
Um abraço e até domingo que vem!
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